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Jorge Guimarães é presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e foi docente em oito universidades brasileiras, entre elas a Unifesp, a UFRJ e a Unicamp. Artigo publicado na Folha de São Paulo de 11 de maio e reproduzido pelo Jornal da Ciência.
No período entre 2000 e 2010, enquanto no Brasil (exceto São Paulo) o número de concluintes de ensino médio aumentou em 134 mil, em São Paulo, houve queda de 196 mil. Além disso, dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) mostram que, desde 1995, a proficiência dos jovens do estado de São Paulo nos exames nacionais caiu dramaticamente.
Apesar da riqueza de São Paulo, cuja renda per capita é superior a de países como Chile, México e Uruguai, no teste internacional Pisa o estado ficou atrás de todos. O governo de São Paulo lançou um plano para recuperar o atraso, com metas para 2030, assumindo que o estado não pode repetir nos próximos anos o pífio desempenho dos últimos 18.
As condições de acesso dos jovens paulistas ao ensino superior, porém, nunca foram tão favoráveis. Em 2004, fizemos um profundo diagnóstico sobre o gargalo entre a educação básica e a educação superior e nos dispusemos a transformá-lo em uma banda larga de acesso.
Constatamos, então:
1) A ausência de um programa de bolsas de estudo para jovens de baixa renda ingressar nas instituições privadas ou permanecerem nas instituições públicas;
2) O sucateamento das universidades públicas federais;
3) A ineficiência do financiamento estudantil;
4) A falta de estratégia em explorar novas fronteiras, como educação à distância e cursos superiores de tecnologia (graduações curtas);
5) A falta de marco regulatório que garantisse a qualidade;
6) E o anacronismo dos vestibulares.
De lá para cá, o governo federal patrocinou a maior reforma da educação superior da história por meio de várias iniciativas. Criamos o ProUni, que já ofereceu mais de um milhão de bolsas de estudos, 30% das quais para jovens paulistas. Dobramos as vagas de ingresso nas universidades federais, atendendo o estado de São Paulo, com a criação da UFABC e a expansão da Unifesp e da Ufscar.
Reformulamos o financiamento estudantil (Fies), com redução de juros, aumento do prazo de amortização, dispensa de fiador, remissão de dívida de médicos do SUS e professores da rede pública etc. Criamos a Universidade Aberta do Brasil (UAB), com 639 polos de educação pública a distância, 37 em São Paulo, e 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, que oferecem cursos superiores de tecnologia, sendo que só o de São Paulo conta com 28 campi.
Tudo somado, entre 2002 e 2010 a proporção de brasileiros de 19 anos com ensino médio completo saltou de 33% para 50%. A proporção de concluintes da educação superior em relação ao número de brasileiros com 24 anos saltou de 15% para 30%. Um feito inigualável.
Quanto à pós-graduação, apesar de termos dobrado o número de mestres e doutores formados ao ano, os resultados poderiam ser ainda melhores não fosse a estagnação do estado de São Paulo, que entre 2006 e 2010 teve esse nível de titulação variando entre 4.600 e 5.000 doutores ao ano (media de 4.837 titulados), refletindo a redução da concessão de tais bolsas pela FAPESP nos últimos anos.