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Mozart Neves Ramos é professor da Universidade Federal de Pernambuco, é membro do Conselho de Governança do Todos Pela Educação e do Conselho Nacional de Educação.
Artigo publicado no Correio Braziliense.
Para um país que tem hoje o sexto Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, é preocupante verificar que, no ranking da produtividade, segundo levantamento da instituição de pesquisa americana The Conference Board, o Brasil ocupa apenas a 75ª posição. Quando comparado com os países da América Latina, fica em 15º lugar, à frente apenas da Bolívia e do Equador. A situação não é diferente se levarmos em conta o ranking de outros indicadores, como de inovação e de competitividade. De acordo com alguns especialistas, apesar dessa importante colocação no ranking mundial do PIB, o crescimento econômico brasileiro está em xeque, por conta de fatores como a baixa produtividade, ausência de uma educação de qualidade e infraestrutura limitada.
Porém, entre todos os fatores que possam contribuir para a sustentabilidade econômica, um deles é crucial: a educação de boa qualidade. Há uma clara relação entre anos de estudo e o crescimento do PIB per capita, mesmo sem considerar explicitamente o fator da oferta com qualidade. Quanto maior o número de anos de estudo, maior o PIB per capita; é o impacto da educação na distribuição de renda. No Brasil, um ano a mais de estudo impacta, em média, 15% na renda de uma pessoa, mas, se ela tiver o ensino superior completo, esse impacto é de 47%.
Tomando como referência o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o País fez um progresso importante em termos de anos de escolaridade da população, que atualmente é de 7,2 anos. Apesar disso, o percentual significa que a média da população brasileira não tem sequer o ensino fundamental completo. É muito pouco quando comparamos com a situação de países vizinhos, como Chile, Uruguai, México e Argentina. Isso é mais grave quando levamos em conta que esses 7,2 anos se realizam com uma baixa qualidade de ensino.
Nesse campo, o da qualidade, o Brasil tem melhorado nas séries iniciais do ensino fundamental, mas há 10 anos encontra-se estagnado nas séries finais do ensino fundamental e do ensino médio. O grave é que estagnamos num patamar muito baixo. Nas séries finais do fundamental, o percentual de alunos que completa essa etapa com aprendizado adequado em matemática não chega a 15%; no médio, o percentual é ainda menor, apenas 11%. Aí está o grande gargalo para o desenvolvimento sustentável.
Uma das consequências disso é a baixa produtividade do trabalhador. Os dados da The Conference Board também revelam que a produtividade média do trabalhador brasileiro é cerca de 20% da do trabalhador americano. Para mudar esse quadro, o país precisa não só ampliar os investimentos em educação, mas fazer com que os recursos cheguem, de fato, à escola, por exemplo, promovendo melhoria nos salários dos professores, nas condições de trabalho, na infraestrutura.
O currículo precisa dialogar mais com o cotidiano das crianças, adolescentes e jovens, dando sentido ao que se ensina e aprende. Estimular mais as habilidades de cada um dos nossos alunos, pois hoje tratamos como se todos fossem absolutamente iguais. A escola "empurra" conteúdos e não é capaz de promover um processo de ensino-aprendizagem mais motivador.
Os últimos números do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) também mostram que estamos perdendo a corrida. Entre outras coisas, os resultados evidenciam que o Brasil avançou nos níveis iniciais do alfabetismo, mas não conseguiu progressos visíveis no alcance do pleno domínio de habilidades que são hoje condição imprescindível para a inserção plena numa sociedade moderna. Somente 62% das pessoas com ensino superior completo e 35% das pessoas com o ensino médio completo são classificadas como alfabetizadas em nível pleno. São percentuais muito baixos para um país que tem o 6º PIB mundial. Mais: esses percentuais há 10 anos eram melhores – respectivamente 76% e 49%.
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