O farmacêutico e o desenvolvimento do Brasil

carteira de estudante


Foto: Fenafar, mesa 3

O farmacêutico, o medicamento e a farmácia no desenvolvimento econômico, cientifico e tecnológico do Brasil, foi tema de mesa durante o 1ª Seminário Farmácia – Ciência e Tecnologia a favor da vida. Para discutir este tema foram
convidados o presidente da Associação Brasileira de Ensino Farmacêutico – Abenfar, Paulo Arrais, a Associação Nacional de Pós Graduandos – ANPG representada por Jouhanna Menegaz, representando o Conselho Federal de Farmácia, Rogério Hoelfer, Célia Chaves pela Fenafar e Carolina Hasllan Diniz da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar, SBRAFH.

por Renata Mielli, de Goiânia

Paulo Arrais centrou sua apresentação nos desafios do ensino de Farmácia, a partir de um panorama atual da sua realidade e sob a luz das necessidades do povo brasileiro, de “desenvolver a produção local de produtos estratégicos para o SUS, do desenvolvimento de serviços farmacêuticos mais eficientes, contribuindo para o debate da criação de um ensino de farmácia de qualidade e com ideias para colocar a ciência e a tecnologia a favor da vida”, disse.

Arrais chamou a atenção o ensino de graduação, tão importante quanto a pós-graduação. Neste sentido, alertou para a fragilidade do ensino e a dificuldade que dos formandos em integralizar todo o conhecimento visto durante o curso de graduação. Por isso, ressaltou “precisamos nos manifestar para que a educação dê o salto necessário e para que a farmácia possa contribuir com a ciência e a tecnologia”.

(clique para acessar a apresentação do Professor Paulo Arrais)

Recursos finitos, necessidades infinitas

A representante da SBRAFH destacou as dificuldades da farmácia e de todo a área de saúde, “num cenário em que os recursos são finitos, enquanto as necessidades são infinitas. Por isso, é fundamental aprender a selecionar, comprar, armazenar e distribuir. E ai é importante o papel do farmacêutico na definição das compras e dos serviços epidemiológicos”, exemplificou.

Carolina falou muito dos desafios da farmácia clínica, uma área na qual a atuação do farmacêutico é muito recente. Neste sentido, falou da importância em haver um hábito mais constante na categoria de realizar o diálogo, o intercâmbio de experiências e elaborações. “A troca qualifica o nosso olhar”.

Conhecimento produzido por e para todos

Jouhanna da ANPG iniciou sua contribuição ao debate pontuando o que, na visão da associação, deve ser visto como ciência e tecnologia. “A ciência é uma das formas de construção de saberes, porque há outras formas, como os saberes populares. Ao lidarmos com as pessoas, é preciso haver uma relação entre estes saberes, para que eles tenham alguma utilidade nas suas vidas”. Considera, também, “que nem sempre a ciência e tecnologia precisa ser um produto, mas podem ser processos que têm que estar a serviço da vida das pessoas”.

Ela ressaltou que “apesar do conhecimento científico ser desenvolvido principalmente na pós graduação, ele precisa ser despertado na graduação e é preciso avaliar se isso tem se dado nos nossos cursos. O que temos visto é que a formação da graduação têm estado cada vez mais tecnicista e voltada para a aplicação e para o mercado e se distanciando da reflexão, da investigação. E isso ocorre até na pós-graduação, uma vez que a especialização está cada vez maior o que leva a uma compartimentalização enorme, isolando os grupos em torno de pesquisas e conhecimentos muito específicos”.

Jouhanna questionou “quanto tempo demora para o conhecimento científico de ponta ter um impacto real na vida das pessoas e serem apropriados pelos profissionais? Quem tem acesso ao conhecimento científico hoje, na forma e nos espaços em que eles estão sendo produzidos? Será que o conhecimento científico só pode ser produzido nas universidades, será que os serviços não poderiam produzir conhecimentos para serem aplicados diretamente nas suas realidades?”

Na opinião da representante da ANPG, não deve ser prerrogativa das universidades produzir tecnologia. Também, de que “não podemos nos deixar levar pela hierarquização dos processos, quem faz ciência não é mais importante do que quem atua nos serviços ou no atendimento ao usuário”.

Capacitar para a inovação

O representante do Conselho Federal de Farmácia, Rogério fez um apanhado das várias áreas de atuação do Conselho Federal de Farmácia na regulamentação e fiscalização do ensino profissional, bem como suas contribuições para o ensino farmacêutico.

Ele ressaltou a tendência recente do aumento cada vez maior dos lucros da indústria farmacêutica em comparação com outros ramos da economia. Contudo, de outro lado, a mesma indústria farmacêutica está oferecendo à sociedade menos novos fármacos. “E dentro disso cada vez menos fármacos para doenças negligenciadas”.

E alertou que a ciência e a tecnologia precisam ser úteis à sociedade. “Se você faz pesquisa e não disponibiliza essa informação para a sociedade, se ela não é aplicada, não tem sentido”, concluiu.

(clique para acessar a apresentação do CFF)

A presença da Fenafar nesta luta

A tesoureira da Fenafar, Célia Chaves, fez um resgate dos debates realizados pela Fenafar ao longo de sua história sobre a questão da saúde estar ou não a serviço da vida. Mostrou os temas dos Congressos da entidade e também pinçou resoluções da Federação sobre a Política Industrial Farmacêutica como: apoiar iniciativas de fortalecimento e ampliação da capacidade de pesquisa e produção de fármacos e medicamentos pelos Laboratórios Oficiais, incluindo medicamentos fitoterápicos; lutar pelo investimento e fortalecimento da produção nacional, visando a autonomia da produção farmacêutica do país; promover e incentivar o debate sobre a revisão da atual Lei de Patentes fortalecendo a soberania nacional e o acesso a medicamentos a população; implementação de forma intersetorial, e em particular, com o Ministério da Ciência e Tecnologia, de uma política pública de desenvolvimento científico e tecnológico, envolvendo os centros de pesquisa e as universidades brasileiras, com o objetivo do desenvolvimento de inovações tecnológicas que atendam os interesses nacionais e às necessidades e prioridades do SUS.

Também destacou as resoluções da Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica e as participações da Fenafar nas edições do Fórum Social Mundial, sempre levantando a bandeira em defesa da saúde e da vida. Célia abordou, ainda, a iniciativa da Federação de entrar com a ação de inconstitucionalidade contra o dispositivo das patentes pipeline.

(clique para acessar a apresentação de Célia Chaves)

(Notícia originalmente publicada no portal da Fenafar)