Callegari diz que modelo atual de ensino não atende as necessidades. Prefeitura espera que evasão escolar diminua, apesar da exigência (G1)
O secretário municipal de Educação de São Paulo, Cesar Callegari, disse nesta quinta-feira (15) que o quadro atual da rede de ensino na cidade é um "fracasso disfarçado". Entre as principais medidas que contribuem para o mau desempenho dos alunos está a adoção da aprovação automática, de acordo com o secretário.
"O quadro hoje é um fracasso escolar disfarçado. As pessoas, só tardiamente, vão descobrir que não aprenderam o que tinham que aprender na hora certa. Então, o que nós pretendemos é tomar um conjunto de providências que cada necessidade, no momento em que ela se apresenta em uma criança ou em um jovem, possa ser atendida por professores e com um apoio pedagógico complementar", afirmou o secretário.
Na tentativa de mudar o cenário, a Prefeitura de São Paulo lançou um programa de reforma no ensino que inclui mudanças como a substituição da aprovação automática pela progressão continuada, a divisão do ensino fundamental em três ciclos, em vez dos dois atuais, e a retomada da obrigatoriedade da lição de casa, boletins e provas bimestrais.
"Ninguém quer o fim da aprovação automática com o aumento da repetência, o que a gente quer é acabar com a aprovação automática com o acompanhamento fino aluno por aluno, com provas bimestrais, boletim, recuperação no período letivo, recuperação de férias, se for necessário, para evitar trocar uma coisa por outra que não vai resolver o problema", declarou o prefeito Fernando Haddad.
Ele citou que pretende evitar dados negativos como os que mostram que 38% dos alunos da capital paulista que cursam entre o 4º e 9º ano não estavam totalmente alfabetizadas até os 10 anos.
Entre as outras medidas que serão implantadas no início do ano letivo de 2014 consta a possibilidade de repetência em cinco estágios do ensino básico e criação de um sistema de dependência, quando o aluno é reprovado em algumas disciplinas, mas passa de ano e, na série seguinte, tem que cursar aulas de recuperação específicas. O programa será avaliado pelos profissionais da educação e população através de uma consulta pública até o dia 15 de setembro através do envio de sugestões pelo site www.maiseducacaosaopaulo.com.br.
Evasão Escolar
De acordo com Callegari, o índice de evasão escolar, que hoje gira em torno de 2,5% no final de cada ciclo, deve diminuir, apesar do aumento do nível de exigência dos estudantes. "Ao contrário do que algumas pessoas pensam que possa haver repetência e evasão, nós acreditamos que haverá muito mais aprendizado, o programa que está sendo proposto vai envolver muito mais disciplina de estudos."
O secretário destacou que o novo modelo vai exigir mais dedicação dos estudantes. "Se não estudar, não vai para frente", disse. "A lição de casa não é uma coisa à toa, é algo muito importante em uma estratégia de formação integral da criança e do jovem paulistano."
Callegari também destacou que os pais devem participar do processo educacional dos seus filhos. "Não adianta mais pensar e achar que uma escola resolve tudo. Se um pai e uma mãe não acompanham a vida escolar dos seus filhos, eles terão poucas chances de se desenvolver", concluiu.
Ideias velhas e novas
Em conversa com jornalistas na quarta-feira (14), Haddad afirmou que, desde a campanha eleitoral e o início de sua gestão, sua equipe de governo analisou a realidade das escolas municipais e o diagnóstico para todos os níveis de ensino apontava a pouca "exposição" que os moradores de São Paulo têm à educação.
Ele diz que o governo adotou "ideias velhas e boas e ideias novas e boas" para encontrar soluções ao problema. "É um resgate de uma escola que está presente na memória de muita gente, e que passou por um suposto processo de modernização que deixou muita coisa de fora que era importante", explicou Haddad.
Segundo o secretário César Callegari, o objetivo da proposta é transformar a rede municipal e integrá-la a outras iniciativas, além de tornar as escolas "mais autônomas, mais fortes e mais responsáveis". Ele afirmou que a proposta inclui maior repasse às escolas e apoio da prefeitura à preparação dos professores para as mudanças na grade horária e no currículo. Uma das medidas é abrir o banco de questões das avaliações municipais para que os professores possam elaborar provas, e criar um sistema informatizado para os pais e alunos acessarem os boletins escolares.
A assessoria de imprensa da secretaria afirmou que todos os comentários enviados por meio do site serão privados. Após o período de consulta, Callegari explicou que o governo municipal precisará produzir decretos e outros atos administrativos, incluindo a alteração do regimento comum das escolas, para que as mudanças saiam do papel a partir de 2014.
(Tatiana Santiago, G1)