Artigo de Isaac Roitman sobre os desafios da educação
Se o leitor espera um texto sobre a Copa do Mundo vai ficar decepcionado. O tema será sobre o desafio mais importante para o País, a Copa da Educação. Se ainda tivermos alguma esperança de termos uma sociedade justa onde todos possam realizar os seus anseios e alcançarem a felicidade, temos que ganhar esta Copa, para proporcionar uma educação de qualidade para todos independente de sua classe social.
Pensadores como Confúcio (551 a.C – 479 a.C) e Sócrates, (569.a.C – 399 a.C) já demonstravam a preocupação com o tema. Confúcio: “Diga-me e eu esquecerei, mostre-me e eu lembrarei, envolva-me e eu compreenderei”. Sócrates: “A mente não é um poço que se deve encher, mas uma fogueira que se deve acender”. Esses pensamentos foram revisitados posteriormente por John Dewey (1859-1952), Albert Einstein (1879-1855), Anísio Teixeira (1900-1971), Paulo Freire (1921-1997), Darcy Ribeiro (1922-1997), entre outros. A atual educação brasileira pode ser considerada como uma verdadeira tragédia. Muitos descrevem a situação dizendo que nossas escolas são do século 19, os professores do século 20 e os estudantes do século 21. O descompasso é evidente. Na educação básica o aluno espera ansiosamente o sinal para sair da escola. Aparentemente essa síndrome não é nova. Einstein costumava dizer: “Desperdiçamos vida, recursos e cérebros com essa escola maçante e alienada”, e completava com outras duas máximas: 1. “A educação é aquilo que permanece quando alguém esquece tudo o que aprendeu no colégio”; 2. “A imaginação é mais importante que o conhecimento”. O pai da física moderna propôs seis paradigmas para uma educação de qualidade: cultura, espírito crítico, busca dos fundamentos, ética e consciência social, criatividade, imaginação e intuição.
Paulo Freire pregava que o educando assimilaria o objeto de estudo exercendo uma prática dialética ligada à realidade, em contraposição a uma educação bancária, tecnicista e alienante. O educando criaria a sua própria educação e não seguiria um caminho previamente construído. O estudante seria um importante protagonista na sua educação expressada na sua célebre frase: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Por sua vez, Anísio acreditava que só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias, a boa escola pública. Ao mesmo tempo dizia que era contra a educação como processo exclusivo de formação de uma elite mantendo a grande maioria da população em estado de analfabetismo e ignorância.
A prioridade na revolução educacional brasileira será a conquista universal da qualidade no ensino básico. Atualmente a responsabilidade do ensino fundamental é municipal e do ensino médio estadual. É evidente que os municípios e estados brasileiros apresentam uma grande assimetria econômica e cultural. Como costuma dizer o Professor e Senador Cristovam Buarque a criança ao nascer já tem na sua testa um selo do tipo de educação que vai receber, pelo seu cpf – segmento social, e pelo seu cepe – município que reside. Colocarmos em prática a proposta desse notável educador de federalizar o ensino básico será um passo importante que permitirá a criação de uma carreira nacional que certamente induzirá uma melhor formação de professores e a consequente valorização dos mesmos, que merecem receber o mais alto salário da carreira pública, pela responsabilidade que têm de prepararem as futuras gerações. A federalização deve ser acompanhada de uma pedagogia contemporânea, priorizando conteúdos com ênfase na aquisição de valores civilizatórios em um ambiente lúdico e prazeroso. A presença da família no processo educativo é absolutamente fundamental como a ampliação de espaços culturais e esportivos acessíveis para todos.
As propostas de Priscila Cruz (Todos pela Educação) devem ser disseminadas. Ela enfatiza que o salto na educação é imperativo. “A tecnologia avança aceleradamente, os interesses dos alunos são outros, a sociedade é mais complexa, e a economia, mais interdependente. Nos últimos anos, a humanidade produziu muitos conhecimentos que têm pouco espaço no currículo atual. E, por fim, o mercado de trabalho exige novas competências”. O sucesso da Copa da Educação depende de todos nós. Ele será o melhor investimento para o futuro das próximas gerações.
Isaac Roitman é professor emérito da Universidade de Brasília e membro Titular da Academia Brasileira de Ciências.
Fonte: Correio Brasiliense
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