Lennon Corezomaé, do povo Umutina, foi aprovado no processo seletivo 2015 para o Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação
O estudante Lennon Ferreira Corezomaé será o primeiro pós-graduando indígena a cursar Mestrado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Lennon também foi o primeiro indígena a concluir o curso de Licenciatura em Educação Física na Universidade, em 2014, com desempenho acadêmico exemplar, e ao final do mesmo ano, foi aprovado no processo seletivo 2015 para o Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), na linha de pesquisa Práticas Sociais e Processos Educativos.
Abrindo as portas para o povo indígena na pós-graduação da UFSCar, Lennon desenvolverá nos próximos anos a pesquisa “Escola Indígena: compreendendo os processos educativos relacionados à afirmação da identidade Umutina”, que tem como objetivo compreender, a partir do olhar do seu povo, os Umutina, o papel da Escola Indígena Jula Paré na formação e valorização de sua identidade.
Para Lennon, a valorização da identidade do seu povo transmitida pela escola indígena é de grande importância. O agora educador físico conta que estudou em escolas não indígenas, onde algumas vezes foi discriminado por outras pessoas. “Quando se estuda na aldeia não tem isso. A gente se respeita, pode andar tradicionalmente, pode falar nosso idioma, fazer nossos rituais e ninguém discrimina a gente. É desse modo que a escola indígena nos fortalece”.
A metodologia da dissertação de Lennon terá como base a História Oral, a qual permite que minorias culturais e discriminadas, tais como indígenas, homossexuais e negros, dentre outros, encontrem espaço para validar suas experiências. Segundo o indígena, a academia é um espaço essencial para a discussão sobre as minorias, mas também há um problema, já que essa discussão geralmente não sai do âmbito acadêmico. “É importante abordar esses assuntos, pois é um momento de reconhecimento e de luta pelos nossos direitos. Temos que trazer as minorias para esse espaço”.
A conquista de Lennon evidencia mais uma vez a importância das políticas de ações afirmativas no Ensino Superior, contribuindo para que indígenas e não-indígenas aprendam uns com os outros, primando pela interação cultural e pela troca de saberes e de conhecimentos. Segundo Lennon, as ações afirmativas também são importantes para que as pessoas possam conhecer de fato o povo indígena.
“O que geralmente as pessoas conhecem é o que se passa na televisão ou o que aprendem na escola, que é superficial. Para muitos, o indígena é um selvagem que não trabalha, diferente do que a gente mostra quando chega aqui. Quando eles realmente conhecem um indígena brasileiro, o que nós fazemos, nossas lutas, nossas conquistas e nossas dificuldades, diminui um pouco o preconceito. Espero que as experiências diversas pelas quais eu passei me ajudem a trabalhar na questão indígena e ajudar meu povo e todos os povos indígenas que eu puder”, conclui Lennon.
Fonte: UFSCar