Teve início nesta segunda-feira, 2, em Brasília, o 2º Encontro dos Ministros de Educação do Brics, bloco de países emergentes que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Entre os principais temas abordados pelo grupo de especialistas em educação dos cinco países, está a mobilidade acadêmica, com foco na pós-graduação.
Segundo Luiz Cláudio Costa, secretário-executivo do Ministério da Educação, o programa Ciência sem Fronteiras pode servir de exemplo para futuras parcerias entre os países membros do grupo. “Com o CsF, o Brasil atingiu um novo patamar no processo de internacionalização da educação superior. Agora, temos o grande desafio de estreitar os laços entre pesquisadores dos países do Brics, de maneira mais efetiva e menos burocrática”, afirmou.
De acordo com Costa, a reunião consolida a recente e promissora cooperação internacional dos Brics, com vistas a promover melhorias mundiais. “Tratam-se de cinco países com muitas diferenças, mas com muitos desafios em comum. Observando essas diferenças, poderemos resolver nossas desigualdades internas. Especialmente ao associar cenários econômicos com os desafios da educação. A história recente da humanidade mostra que não existe desafio que não seja superado com base na educação. O avanço sustentável só é possível pela via da educação”, ressaltou.
Encontro
O encontro busca o aprofundamento na discussão dos temas prioritários estabelecidos na primeira reunião de ministros da Educação, que aconteceu em novembro de 2013, em Paris.
Para o Embaixador José Alfredo Graça Lima, o evento segue a principal diretriz da 6ª Cúpula de Chefes de Estado do Brics, ocorrida em Fortaleza, em julho de 2014, que é o de atenção especial aos temas sociais. “Propostas como a indiana, da criação de um fórum de jovens cientistas, ou a russa, de criar uma liga universitária dos países Brics, estão perfeitamente alinhadas com as prioridades do governo brasileiro, que coloca a educação como principal eixo”, enfatizou.
Segundo o embaixador, a reunião deve gerar resultados robustos no alinhamento da cooperação internacional. “Raras oportunidades terão tanto impacto em nível mundial, já que estamos tratando da educação de 42% da população mundial. Em eventos como esse, percebemos que o Brics se encontra plenamente consolidado e aumenta os impactos positivos sobre influência internacional”, concluiu.
No fim do dia, os ministros assinaram a Carta de Brasília, com as principais decisões do grupo e recomendações para ações futuras na área.
Avanço qualitativo
A preocupação com o crescimento qualitativo da educação foi um dos principais temas abordados pelo vice-ministro da Educação da China, Yubo Du. “Nosso país deu entrada em uma nova fase de crescimento. Nosso foco não deve ser simplesmente na expansão, mas sim no aumento qualitativo”.
A China tem hoje o maior número de matrículas no ensino superior do mundo. “Estamos interessados em uma formação mais adequada às necessidades socioeconômicas do país. Nosso programa pretende melhorar o currículo e, assim, aumentar a capacidade de inovação e de servir à sociedade, com foco na formação de talentos criativos. O governo chinês tem exigido das universidades atenção especial para inovação e para o planejamento de disciplinas e cursos em temas chaves. Assim temos alcançado resultados notáveis”, contou Yubo Du.
O vice-ministro da Educação da África do Sul, Mduduzi Manana, demonstrou esperança de que o encontro possibilite avanços pragmáticos para cooperação educacional entre os países do bloco. “Estamos bastante satisfeitos com o que está sendo estabelecido aqui. É evidente para nós que os cinco países estão lidando com as mesmas questões, por isso devemos cooperar para resolver esses desafios e nos aproximar de soluções”.
Essa análise é semelhante ao do vice-ministro da Rússia, Alexander Klimov, que também citou o Ciência sem Fronteiras como uma boa plataforma para a mobilidade internacional. “Nossa cooperação pode ser bem sucedida porque compartilhamos problemas comuns. É assim que teremos uma formação mais competitiva internacional”, afirmou.
O vice-ministro indiano, Satyanarayan Mohanty, destacou os temas escolhidos pelo grupo para deliberação. “Parabenizo o Brasil pela criação dessa agenda que abarca educação superior, profissional e indicadores educacionais. Os países do Brics precisam crescer juntos e para isso é importante fortalecer a cooperação internacional em ciência, tecnologia e inovação”.
Grupos de Trabalho
A partir de reunião de grupos de trabalho, realizadas na manhã do dia 2 de março, especialistas e representantes dos governos se debruçaram sobre os principais temas da área de educação.
O grupo que tratou da educação superior, que incluía o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Almeida Guimarães, a diretora de Relações Internacionais da Capes, Denise Neddermeyer, o diretor de Políticas e Programas de Graduação da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação, Dilvo Ilvo Ristoff, e o diretor de Cooperação Internacional do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Paulo Sérgio Beirão, discutiu a criação da rede de universidades do Brics, a formação de uma liga de universidades para desenvolver projetos de pesquisa conjuntos e a intensificação da mobilidade acadêmica de professores, pesquisadores e estudantes do bloco.
O presidente da Capes fez a abertura da mesa revelando ser um encontro muito importante para a educação superior. “Essa é uma ótima oportunidade para discutirmos problemas em comum entre países do bloco e pensarmos em soluções conjuntas, que envolvem a questão da mobilidade e da formação de uma rede de universidades. Temos pouco tempo para discutir muitos assuntos.”
Em seguida, os participantes propuseram uma agenda de encontros para detalhar os termos da cooperação multilateral, identificar as áreas de maior interesse comum e as universidades com trabalho relevante nesses setores. Em princípio, essas áreas seriam qualidade educacional, mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável e segurança nutricional, entre outras.
Outros temas abordados foram a educação profissional e tecnológica, em especial como balancear as demandas do mercado de trabalho e a formação nesse nível; e metodologias conjuntas para criação de indicadores educacionais comuns, que contemplem as particularidades do contexto econômico e social dos países do bloco.
Terça-feira
Nesta terça-feira, 3, os ministros da Educação dos países do Brics voltam a se reunir, desta vez com a participação de representantes da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Na ocasião, o subsecretário-geral de educação da Unesco, Qian Tang, apresentará o estudo “Brics – Construir a educação para o futuro”, desenvolvido pela agência sobre a educação nos cinco países do grupo.
Também serão discutidas as possibilidades de cooperação entre a Unesco e o Brics e questões relacionadas à elaboração das metas da Agenda Internacional de Educação pós-2015 e ao Fórum Mundial de Educação, que será realizado na cidade sul-coreana de Incheon, de 19 a 22 de maio próximo.
Estão previstos novos encontros desse grupo para os dias 25 a 29 de abril, em Cuiabá, meados de maio, em São Petersburgo, na Rússia, e em outubro, em Pequim, na China, quando será lançada a Liga de Universidades do Brics.
Fonte: CAPES