I Seminário Nacional de Assistência Estudantil: Políticas, Direitos e perspectivas para a pós-graduação tem início com falas emocionadas

carteira de estudante

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O “I Seminário Nacional de Assistência Estudantil: Políticas, Direitos e perspectivas para a pós-graduação”, realizado pela ANPG, teve início com a fala emocionada da presidenta da Associação, Tamara Naiz. “Nós queremos mudar profundamente o país”, diz a pós-graduanda em História da UFG durante o debate, realizado na noite desta segunda-feira (27), no auditório da reitoria da Universidade de Brasília.

“A assistência estudantil é fundamental para mudar o perfil sócio-econômico da pós-graduação brasileira. Queremos que a pós-graduação possa refletir todas as potencialidades que temos para desenvolver o nosso país”, acrescentou.

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A mesa de abertura do Seminário contou ainda com a presença do reitor da UnB, Ivan Camargo; e do presidente da APG – UnB e diretor da ANPG, Gabriel Nascimento. No público, estiveram presentes pós-graduandos de diversas partes do país e representantes das APGs PUC-Rio e da UFRJ.

“Discutir assistência é necessariamente passar pelo acesso à universidade. E de que forma a universidade pode receber cada vez mais estudantes tanto em quantidade quanto em diversidade? A pós-graduação ainda é restrita a poucos”, comentou Gabriel, ratificando a fala de Tamara.

“Hoje, somos 200 e poucos milhões de habitantes, mas apenas a minoria da população tem acesso à universidade. Quando falamos de pós-graduandos, esse número é ainda menor”, lembrou Gabriel, enfatizando a importância de se discutir a pauta de assistência estudantil.
Ivan Camargo, reitor da UnB, comentou a fala da Tamara e, em seguida, discorreu rapidamente sobre as pautas da Campanha por Mais Direitos para as Pós-Graduandas e para os Pós-Graduandos. “Quando a gente se emociona pelas nossas causas, significa que o Brasil tem futuro. Quero parabenizar você, Tamara, pelo seu discurso”, disse o professor.
“As pautas [da Campanha por Mais Direitos para as Pós-Graduandas e Pós-Graduandos] me parecem bastante razoáveis. Mas, quando se pensa em assistência, temos que batalhar também por melhores condições logísticas, melhores laboratórios, melhores restaurantes universitários…”, acrescentou.

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O professor comentou também sobre a diferença abismal entre as universidades brasileiras e as universidades estrangeiras, principalmente, as dos países ditos desenvolvidos. “Temos muito que caminhar nessa direção. Mas essa trilha precisa de dinheiro e precisamos discutir como fazer isso”. Ele citou o exemplo de Stanford, universidade situada na Califórnia. “O orçamento da universidade de Stanford é dez vezes maior que o da Universidade de Brasília; e o número de alunos de Stanford é três vezes menor que o da UnB”, comenta. “Espero que vocês aproveitem a discussão desse seminário e tragam as demandas aqui para a UnB”, concluiu.

“Desafios das Políticas de Assistência estudantil para a pós-graduação no Brasil”
“Quando vi a Tamara se emocionado aqui é porque essa discussão é fruto de bastante trabalho, nós vínhamos discutindo bastante com as APGs e com os pós-graduandos para levantar essa luta que é muito incompreendida. Como foi dito, nós não temos direitos a nada. Uma amiga minha adoeceu e não teve o suporte da universidade. Além, é claro da enorme defasagem em relação às bolsas de pesquisa”, comentou Cristiano Junta, vice-presidente da ANPG, abrindo a mesa “Mesa Desafios das Políticas de Assistência estudantil para a pós-graduação no Brasil”, que veio em seguida à mesa de abertura do Seminário. “Essa caravana se insere nessa na luta daqueles que querem continuar a ver o país avançado nas conquistas que tivemos ao longo dos últimos anos”, acrescentou.

Caiubi Kuhn, diretor de Políticas Educacionais da ANPG, assumiu a palavra na sequência, lembrando as várias realidades do Brasil e comentou sobre a expansão da universidade nos últimos anos. “Passamos, nos últimos 10 anos, por um processo de expansão na pós-graduação e, claro, da universidade. A assistência estudantil é o caminho para garantir a democratização da pós-graduação sob vários aspectos. Este é um desafio muito grande, principalmente, para o estudante de pós-graduação de baixa renda, pois ele encontra mais dificuldade ao realizar sua pesquisa”, explica.

O secretário executivo da Andifes, Gustavo Balduino, começou sua fala, abordando o que ele chamou de “núcleo” do tema de assistência estudantil e comentou sobre a criação do PNAES (Plano Nacional de Assistência Estudantil), que foi elaborado pela ANDIFES.
“O FONAPRACE vai incluir a pós-graduação no debate da assistência estudantil e pressionar para que, nas universidades, os pró-reitores possam entender a importância de se debater esse assunto”, disse.

Em seguida, Gustavo fez uma pequena ressalva, dizendo que é preciso lutar por mais direitos, mas, lembrando que essa é uma luta mais ampla na universidade. “Não adianta eu dar assistência 100% [aos estudantes] e não dar bons laboratórios, professores capacitados, etc. Não pode ser uma demanda isolada das outras questões da universidade”, comentou.
Na sequência, a professora Adélia Pinheiro, reitora da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e representante da Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (ABRUEM), ressaltou que o tema do seminário é uma “pauta nova que precisará ser dialogada e construída coletivamente, inclusive passando pelo momento de construção conceitual para que nós não nos deixemos cair em armadilhas”, disse.

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Corroborando a fala do representante da Andifes, ela comentou que a universidade se faz com qualidade. “Quando o pós-graduando discute qualidade e assistência somos pares”. E acrescentou: “Estamos passando por um momento em que alguns ganhos, resultados de defesas históricas, estão sendo questionados, minados na base, sempre com a contraposição, de que há desvios, não alcança resultado, os indicadores não apresentam eficiência”, lembrando o momento histórico complicado por qual passa o Brasil, com a direita cada vez mais se manifestando.

Ela ainda comentou dados da ABRUEM. “Represento 45 instituições de ensino espalhadas em quase todos os estados do País. Nós respondemos por 40% dos estudantes de graduação das universidades públicas. Não é pouco. Entretanto, o PNAES não inclui os estudantes de universidades municipais e estaduais [apenas as federais]. Portanto, quando nós temos como referência o PNAES, não estamos falando de uma politica que alcance os estudantes dessas universidades que respondem por 40% dos graduandos no país, e muito menos de pós-graduação. Então, temos aí uma diferenciação”, explicou.

Na sequência, abriu-se sessão para a intervenção do público, que levantou questões pertinentes ao tema, como políticas de democratização e permanência na pós-graduação, a consolidação de um sistema nacional de educação superior e o corte de verbas na Educação, refletindo no atraso das bolsas de pesquisas, que ocorreram principalmente no começo do ano.

As atividades da Caravana à Brasília e o “I Seminário Nacional de Assistência Estudantil: Políticas, Direitos e perspectivas para a pós-graduação” continuam nesta terça-feira (28). Às 9h acontece o debate público, no auditório da Câmara, intitulado “Desafios e perspectivas para a implementação de mais direitos para os pós-graduandos”. À noite, às 18h30, no auditório da reitoria da Universidade de Brasília, acontece a terceira mesa “Democratização da Pós-Graduação e Mudanças no Perfil Socioeconômico dos Estudantes Superior brasileiro”, com a presença do decano e da decana da UnB, Jaime Santana e Denise Carvalho, respectivamente.

Os diretores da ANPG ainda se reúnem com o Ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, e com o Ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, nos próximos dias, para discutir a pauta de mais direitos aos pós-graduandos.

Natasha Ramos, de Brasília