Foto: Bruno Bou Haya
O primeiro dia de debate teve manifestações de diretores da ANPG e pós-graduandos de diversas APGs em defesa da Petrobrás
Uma mesa “de peso” deu início aos debates da programação do 4º Salão Nacional de Divulgação Científica da ANPG , na tarde desta segunda-feira (13).
A abertura contou com a intervenção de um ator interpretando o físico Albert Eistein (1879 – 1955), falando da importância da imaginação, intuição, mistérios do universo e, claro, da importância da ciência e da pesquisa para desvendá-los.
O debate “Desafios da Inovação no Brasil” contou com a presença de três grandes apoiadores e incentivadores de pesquisa no país: Luis Manoel Fernandes, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Inácio Arruda, ex-senador e Secretário de Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará e Victor Pellegrini Mammana, diretor geral do Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer. Mediado por Gabrielle Paulanti, secretária geral da ANPG, e Fábio Palácio, diretor da Fundação Mauricio Grabois, o debate jogou luz a questões como as necessidades de transformar conhecimento em riqueza social e econômica: “Esse é o caminho genuíno para o crescimento e desenvolvimento do país”, disse.
Luis Fernandes apresentou um panorama dos investimentos em pesquisa no país desde os anos 70 e suas mudanças até hoje, passando pela vertiginosa queda nos anos 80 e 90. Após essas décadas, durante o primeiro Governo Lula, iniciado em 2003, houve um cronograma de eliminação do contingenciamento até 2010, o que fez o orçamento para Ciência e Tecnologia saltar de R$ 600 milhões para os R$ 2 bilhões, que resultou em reformas estruturantes e a criação da lei da Inovação.
“Com esse planejamento houve uma recuperação do FNDTC (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), porém novamente caímos nos entraves de ‘ bipolaridade’ entre os parlamentares que ora oferecem, ora retiram “, disse.
Segundo ele, se faz necessário uma reforma social no país, para que parlamentares estejam de acordo com o que é importante para o crescimento.
“Hoje há uma convergência de pensamento de que estamos em uma época da economia de conhecimento, portanto é necessário ter programas cobrindo toda a cadeia de inovação e não devemos nos contentar em subordinação com cadeias globais de agregação de valor”.
Inácio Arruda lembrou da importância desse debate proposto pela ANPG, já que está em discussão o PPA (Planejamento PluriAnual) até 2019, e é necessária a divisão de investimentos em todo país, onde há fundos setoriais, assim, descentralizando do sudeste.
“Cada edital que lançamos, por exemplo, no Ceará, é surpreendente o número de empresas que apresentam projetos”, observa.
Arruda também alerta para superação de queda nos investimentos, que atrapalham muito as pesquisas em andamento, e disse que é necessário encontrar fontes permanentes para investimentos.
O secretário citou o exemplo da Embrapa (Empresas Brasileira de Pesquisa Agropecuária) que obtém financiamento público e privado e obtém constância em projetos e reconhecidos mundialmente.
“Também deve-se rever a Lei das Patentes para resolver entraves na inovação no país. Por conta da demora para liberá-las, muitas vezes até mais de dez anos, a produção e inovação nacional são prejudicadas, perdendo a competitividade em relação a outros países”, aconselhou.
Victor Mammana, do Centro Renato Archer, localizado em Campinas, e que é uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia, fez uma fala bastante progressista, alertando para os retrocessos no país, incluindo os sociais, como a redução da maioridade.
Também apresentou o Programa do Centro chamado “Wash!” (Workshop de Aficionados de Software e Hardware), ou mais popularmente conhecido como “Rolezinho da Ciência”, que leva institutos de pesquisa em bairros de baixa renda.
“O programa estimula o interesse dos jovens na ciência de uma forma diferente e também recebemos a notícia que teremos uma bolsa de iniciação para estudantes do ensino médio que participarem”, contou.
A iniciativa foi bastante comemorada por estudantes do ensino médio e técnico presentes no local.
A defesa da Petrobras
Citada por Mammana no debate, a ameaça à Petrobras quanto à sua privatização, foi um tema que atraiu diversas falas e intervenções.
“Ela é a principal empresa no país que oferece investimentos à pesquisa, à cultura e educação. Além disso, os fundos setoriais do Pré-Sal também devem ser destinados em partilha para incentivos à Ciência e Tecnologia”, avalia. Esse investimento dos fundos setoriais na estatal reveberaria em produção de tecnologia própria, o que a tornaria autossuficiente e referência em inovação e engenharia no mundo.
Tamara Naiz, presidenta da ANPG reafirmou a luta da entidade pela Petrobrás, que, esse ano, saiu em defesa da estatal por diversas vezes em atos públicos e em uma blitz no Congresso, visando defendê-la para alavancar os investimentos na ciência.
“Como falar em soberania, senão falarmos em inovação? Lembramos que os investimentos, nesse caso, devem ser voltado para transformação social, já que os países que mais investem em ciência e tecnologia também voltam suas pesquisas para a indústria bélica”, discursou.
Presidenta da ANPG, Tamara Naiz homenageia Luiza Rangel, ex-presidenta da entidade
A presidenta também aproveitou para saudar as mulheres pós-graduandas presentes no Salão. Lembrando do empoderamento feminino nas pesquisas, suas lutas em um ambiente, antes predominantemente, masculino, e que tem aumentado. “Esse deve ser um espaço na formação cada vez mais plural em gênero, raça e renda”.
Por Sara Puerta, de São Carlos