Estratégias de divulgação científica, além das publicações especializadas, foram apresentadas durante o 4º Salão Nacional de Divulgação Científica da ANPG
“Para a sociedade, no geral, o cientista é o máximo!”, disse Marcia Cançado, professora titular da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) , durante o quarto dia de programação do 4º Salão Nacional de Divulgação Científica da ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduandos), realizado na última quinta-feira (16), no debate com o tema “A popularização e divulgação da Ciência como Propulsoras da Inclusão Social e Produtiva”.
Segundo Márcia, essa é a terceira profissão mais admirada, ficando atrás apenas dos médicos e professores. Foi o que constatou uma pesquisa da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo) que ouviu mais de 3 mil pessoas.
A roda de conversa mediada por Marcos de Moraes, vice-presidente regional Norte da ANPG, elencou estratégias para o maior alcance das produções científicas na sociedade, como atrair e motivar jovens pesquisadores e a ciência como solução para problemas sociais, voltada para inclusão e para promover benefícios à população.
E, sim! Os brasileiros estão bastante interessados quando se trata de ciência! Essa foi a conclusão da pesquisa de percepção pública da Ciência e Tecnologia no Brasil realizado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), apresentada pelo ministro de Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, na abertura da 67ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da ciência), e também lembrada durante o debate.
Entre quase 2 mil entrevistados, 61% afirmaram ter interesse na área, ficando à frente até dos temas “arte e cultura”. E mais: 50% enxergam os cientistas como pessoas inteligentes que fazem coisas úteis à humanidade e 78% querem mais investimentos na área.
“A população tem admiração pelo cientista, mas poucas pessoas conhecem nomes de universidades ou unidades de pesquisa. Ela não é popularizada, pois é muito mais feita para a academia, do que para a sociedade”, acrescenta Marcia.
Tamara Naiz, presidenta da ANPG, em sua intervenção durante o debate, ponderou que o público que se destina à produção científica é questão inicial quando é iniciada uma pesquisa.
“ Os trabalhos produzidos devem gerar impacto social e transformações. Para pensar em mudar realidades, a ANPG defende que a educação cientifica seja incluída e valorizada ensino básico, e que esse incentivo à pesquisa também promova igualdade”, pondera Tamara.
A presidenta acrescentou que existe, portanto, uma necessidade de cotas raciais e renda também para a pós-graduação, devido às disparidades na formação inicial país afora.
Douglas Falcão Silva, diretor do departamento de divulgação da Secretaria de Inclusão do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, lembrou que apenas 11% das escolas públicas de ensino fundamental e médio possuem laboratórios.
“E não estamos avaliando a qualidade desses espaços, apenas a questão de existir ou não. É um número muito baixo, pensando que o incentivo à ciência se dá por experimentação. Por isso, devem existir estratégias na divulgação o para alcance diversificado , levando em conta perfis sócio demográficos diferentes”.
Meios de Propagação
Falcão conta que a atividade de divulgação é institucional desde 2003 na pasta, e teve início efetivo com a criação da Secretaria de Inclusão Social, como um meio para diminuir a desigualdade no país e pensar políticas para sistemização da comunicação da produção científica.
E, acrescenta que o departamento pensa na divulgação não de forma horizontal, e sim para a sociedade não especializada, e que o seu alcance já possui variáveis positivas.
“Passaram a existir uma política de divulgação científica voltada ao o público leigo, já existem grandes avanços. Atualmente, existe concurso para a função de divulgador”, comenta.
Além disso, a quantidade de museus de ciência – importante meio de propagar a área – saltou de 106 para 270 , de 2006 até 2013.
“Ainda que a maioria esteja concentrada no sudeste, presenciamos uma variável positiva, que indica existir uma política pública na área em construção. E a ideia é distribuir esses equipamentos culturais pelo país.”
O diretor apontou que além dos museus, a feiras de ciências, que valorizam a experimentação, organizadas por meio de editais e com recursos dos fundos setoriais, as olimpíadas do conhecimento – que no Brasil é a maior do mundo., a construção de espaços como centros de pesquisas, unidades móveis e a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, são os meio s eficazes para o incentivo e acesso à instrução na área.
“As feiras de ciências chegam a mobilizar mais de 100 mil estudantes, entre os visitantes e participantes, além dos professores .É comum perguntarem a ganhadores de Prêmio Nóbel sobre o início do interesse pela ciência, e a resposta comum é que tenha se iniciado em exposições da área, ainda na infância”, comentou.
O financiamento para essas ações acontecem por meio dos editais, apoio fiscal por meio da lei Rounet e as emendas parlamentares, em que deputados alocam recursos em projetos. Segundo ele, o momento atual, em que foram anunciados cortes, que envolvem também aqueles que são voltados para a pesquisa na educação básica são preocupantes, e isso aponta a necessidade de uma política constante para valorização da ciência.
“Existem transformações sociais que são valorizadas quando a economia vai muito bem por vários anos. E, infelizmente, os cortes atingiram também o ministério esse ano. Porém, tenho o gene do otimismo, e, vamos nos aproximar do financiamento privado também para os editais, intermediando as empresas que vão oferecer recursos, com as instituições propagadoras de ciência”, anuncia.
Transformar a linguagem
Adalberto Val, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia , diretor de relações internacionais da CAPES ( Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), avalia que a mudança no alcance da atividade científica anda junto com a mudança da sua forma e conteúdo.
“Houve uma mudança na ciência no mundo moderno. Hoje ela não é mais neutra, e sim possui finalidades sociais, responde à questões levantadas pela sociedade e deve interagir com as pessoas, por isso, existe a necessidade de ser decodificada”.
Val avalia que trazer a tarefa de tradução da pesquisa para uma linguagem acessível à sociedade ao cientista é lhe submeter a mais uma responsabilidade, em que terá que se especializar em um outra atividade.
O pesquisador lembrou que atualmente 5% dos cientistas fazem 95% da divulgação das produções na área e uma solução seria implantar a formação específica para a atividade.
“Também envolvem estratégias utilizando múltiplos meios, que vão muito além das palestras. Deve-se usar a arte e cultura, como os teatros, por exemplo , parques naturais e espaços de interação que podem desmistificar o estudo”, acrescenta.
Ele citou o Portal de Periódicos da CAPES, como uma meio eficiente de socialização do conhecimento, em que aproxima a produção científica da população, disponibilizando um acesso facilitado à qualquer área de interesse por meio do banco digital das pesquisas.
“Quando falamos em popularização da ciência deve se relacionar o conceito com a cidadania, em que o individuo tenha acesso a todo material e que o propicie mais entendimento do mundo, e para isso devem ser disponibilizados recursos técnicos, como os diferentes meios de comunicação e propagação”, disse.
Por Sara Puerta