Por Laís Moreira Silva*
As desigualdades sociais que decorrem do racismo e da discriminação racial foram frequentemente negadas no Brasil e para iniciar esta reflexão é necessário admitir que a academia deu grande contribuição para produção e reprodução desse quadro de desigualdade étnica e racial. Nós cientistas olhamos imersos até o pescoço nas desigualdades na universidade, entre alunos, técnicos e docentes para este problema, o desafio é da universidade. Fazer com que reflita a nova sociedade em todas as instâncias. A experiência das cotas na graduação nos trouxe importantes questionamentos teóricos e metodológicos, por vezes bem mais complicados que se apresentam. Teorias como da mestiçagem, da democracia racial demonstram a imposição da sociologia dominante sobre o povo brasileiro. As polêmicas deste debate nos levam a discursos racializados, feitos com um cenário de pluralidade que deveria ser a universidade brasileira.
Como disse José Jorge de Carvalho temos que olhar as cotas como o que elas são, um fenômeno que rompe radicalmente a lógica de funcionamento do mundo acadêmico reposicionando as relações sociais e especialmente raciais na universidade. Com o aumento da entrada de estudantes negros e de baixa renda na graduação (quase que consequentemente) aumentou-se a demanda para a pós graduação, porém essa demanda tem se refletido e m sua maioria com mais negros em cursos de lato-sensu, que respondem muito mais hoje a lógica de mercado que acadêmica em algumas instituições, e no entanto dificuldade em inserir este público na strictu sensu que ainda é bem mais rica, branca e velha.
Ressaltamos inevitavelmente a dificuldade maior em implementar as cotas na pós devido a ausência de um sistema único de acesso. Ainda assim temos universidades que já implantaram e colhem as primeiras mudanças, inclusive no rumo das pesquisas. Surpreso? Sim! A aplicação das cotas étnicas e raciais traz consigo também a variedade no campo da pesquisa, é carregado de elementos culturais, antropológicos e raciais que trarão novas descobertas.
Com passos de formiga vamos avançando já são 20% na UFG, 40% na UFBA, na USP bônus extra para quem se declara preto, pardo ou indígena, na UFRJ 20% das vagas e nota de corte menor. Cada universidade tenta adequar a sua realidade e traz novas experiências e desafios. Segundo o IBGE, apesar de 51% da população serem pretos e pardos, somente 18% dos brasileiros com mestrado e 14% com doutorado, pertencem a este grupo étnico.
A verdade é que o mundo acadêmico quer uma resposta: Se a ênfase no mérito for abrandada ou relativizada em nome da justiça social a pós-graduação perderá sua eficiência? E o centro deste debate é que a principal pergunta já vem carregada de elementos que exigem discussão profunda. Nossa luta precisa ser para ter uma universidade racialmente integrada, democrática e popular.
*Laís Moreira Silva é Bacharel em Educação Física, Especialista em Docência do Ensino Superior e Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional
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