Não é o momento para se calar: a crise política no Brasil chama à luta. Em defesa da democracia, os pós-graduandos do país promoveram um ato de resistência durante este sábado (11), no 25º Congresso da ANPG, na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte.
Na ocasião, Tamara Naiz, presidente da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), afirmou que, nesse momento, onde temos os princípios da democracia ameaçados, é pertinente debater o tema no congresso e convidar um conjunto de entidades importantes do movimento social brasileiro para compartilhar sua experiência de luta. “A ANPG nasceu em 1986, depois da reabertura. Antes disso, não se podia organizar-se politicamente”, lembrou.
Prestes a completar 30 anos, a entidade quer revisitar sua trajetória e reafirmar a importância do estado democrático brasileiro que garanta as conquistas sociais ao povo. “Os pós-graduandos brasileiros estão comprometidos em continuar avançando por um Brasil mais justo”, afirmou Tamara.
Para Cristiano Flecha, vice-presidente da ANPG, a associação está inserida em um movimento crescente contra o governo golpista. “Temos como tarefa, a exemplo de como já acontece em várias universidades, criar comitês e realizar assembleias contra o golpe para construirmos a mobilização necessária para derrubar esse governo usurpador. A greve geral sugerida pela CUT é importante nesse sentido”, disse.
Além da presidência da ANPG, o ato contou com a presença de Ariovaldo de Camargo, representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Edson Carneiro (Índio), presidente da Intersindical, Isabella Miranda, das Brigadas Populares, Lúcia Rincon, presidente da União Brasileira de Mulheres (UBM), Carina Vitral, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Camila Lanes, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Késsia Cristina, presidente da União Colegial dos Estudantes Secundaristas de Minas Gerais (UCESMG), Raul Pereira, da União Estadual de Estudantes de Minas Gerais (UEEMG) e Alysson Syffete, representante da UFMG.
“Primeiramente, fora Temer”. Foi assim que Ariovaldo de Camargo, representante da CUT, entregou logo de antemão o seu recado. Para ele, não há outra saída que não o enfrentamento ao golpe. Ele citou como reações positivas o ressurgimento da juventude interessada em debater o seu futuro e a criação das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. “Nós precisamos reverter a situação que aí está por uma questão de existência: nossa e daqueles que querem construir de fato um estado democrático de direito no Brasil”, defendeu.
Lúcia Rincon, da UBM, destacou o caráter machista do golpe da primeira presidente mulher eleita no país. “A força do capital se entrelaça com a força do patriarcado”, ponderou. Para ela, é preciso colocar nas mãos do povo a decisão sobre o caminho a se seguir. “Vamos fazer eleições? Vamos colocar a Dilma com um congresso liderado pelo Eduardo Cunha?”, indagou.
Já Carina Vitral, da UNE, destacou que nesses 30 anos de luta, a ANPG enfrenta agora o desafio de debater os direitos estudantis em meio a uma grave crise política, um golpe. Ela lembrou que a associação precisa salvar a universidade pública da privatização, que prevê cobranças de mensalidade, além de uma série de outros retrocessos como corte de auxílios aos estudantes. “A ANPG está na linha de frente para salvar os direitos dos pós-graduandos e conquistar ainda muito mais coisas que estão por vir”, disse.
Camila Lanes, da UBES, ressaltou a importância da luta pela educação que se espalha pelo país todo: da ocupação do Centro de Referência da Juventude em BH, até as 180 escolas tomadas pelos estudantes no Rio Grande do Sul. Segundo ela, os pós-graduandos são parceiros dos secundaristas na discussão de uma nova escola, regida pelos princípios cidadãos — uma antiga pauta do movimento. A presidente da UBES conta que as entidades estão se organizando para em breve colocar em cena uma agenda de ocupação total. “Todo mundo sofre com a queda dos direitos sociais. A unidade é a palavra principal deste momento. As organizações estão dialogando e falando a mesma coisa: fora Temer, não nos representa e nós queremos repensar a educação pública no país”, ressaltou.
Por Shirley Pacelli, de Belo Horizonte