“Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida.” Simone de Beauvoir
Há mais de um século o 8 de março é a principal data do calendário feminista em todo o mundo. Foi proposta, inicialmente, em 1910, sem data fixa, pela Conferência das Mulheres da Internacional Socialista como Dia Internacional da Mulher Trabalhadora pelo Direito ao Voto. A partir de 1911 em diversos países da Europa e Estados Unidos, após uma tomada de consciência da opressão e discriminação que as mulheres sofriam por milênios, começa-se a comemorar o Dia da Mulher em diferentes datas. Em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário gregoriano) as mulheres russas deram início a uma greve e com ela o início de revolução Russa. No ano seguinte a data se fixa como Dia Internacional da Mulher.
Apesar de todo esse tempo na luta por direitos as mulheres ainda hoje são desprivilegiadas na hierarquia social. Durante muitos anos tiveram a educação voltada estritamente para cuidado do lar, sendo preparada para ser uma boa dona de casa e esposa. As mulheres entraram no século 20 analfabetas e terminaram o século com escolaridade maior que a dos homens. Em 2001, 52% das pessoas com diploma superior no Brasil eram mulheres.
Apesar da maior escolarização e com entrada massiva no mercado de trabalho continuam sendo as principais responsáveis pela organização do trabalho doméstico e as atividades de cuidado. São a maioria no desempenho do trabalho informal e precarizado, além de receberem em média, 76% do salário dos homens, desempenhando a mesma função – uma mulher negra chega a ganhar 40% menos que um homem branco.
As mulheres correspondem a maioria do corpo discente das universidades, mas representam apenas 28% do conjunto de pesquisadores. As cientistas do sexo feminino quando comparado com os cientistas do sexo masculino, em geral, recebem recursos menores para pesquisa e salários mais baixos, consequentemente apresentam menor desempenho/produtividade, tendo também menor acesso aos altos cargos acadêmicos. De acordo com dados do CNPq 76% dos cientistas de nível sênior que recebem bolsas de pesquisa no país são homens.
Segundo a ONU, no que tange à qualificação e formação superiores as probabilidades de uma mulher obter um diploma de bacharel, mestre e doutor em campos relacionados à ciência seriam de, respectivamente, 18%, 8% e 2%. Para os estudantes homens, os valores aumentariam, chegando a 37%, 18% e 6%.
Pesquisas realizadas em diversos lugares do mundo demonstram que as mulheres ingressam na universidade, fazem mestrado, doutorado e depois abandonam suas carreiras. As conclusões apontam que a dupla jornada e as obrigações com a vida doméstica juntamente com o sexismo do ambiente do trabalho pesam contra elas. Problemas estes muito semelhantes aos enfrentados por mulheres em outras profissões.
É por isso que, neste 8 de março, nós mulheres pós graduandas, nos juntaremos às mulheres trabalhadoras de todo o mundo, seguindo nossas ações para mudar a vida das mulheres e para mudar o mundo. Seguiremos na luta por igualdade em uma sociedade sem exploração de classe, sem racismo, sem opressão das mulheres, com respeito pela diversidade, por uma vida sem violência e que garanta a autonomia e a vida das mulheres.
No Brasil, articulada com a luta contra o golpe e pela recuperação da democracia e por um projeto que avance na construção da igualdade em nosso país levantamos nossa bandeira contra a reforma da previdência e por nenhum direito a menos. Temer sai, aposentadoria fica!
Carolina Radd
Diretora de Mulheres ANPG
Doutoranda em Ciências Sociais PUC-Rio