A Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC), fundada em 15 de julho de 1999, surgiu para unir ideias, compartilhar experiências, projetos e possibilitar um grande intercâmbio entre os Centros e Museus de Ciência de todo o Brasil. Faz parte da sua missão promover diálogo com as autoridades públicas, nas suas diversas instâncias, no sentido de contribuir para o fortalecimento de programas de divulgação científica e de articulação de uma Política Nacional de Popularização da Ciência. O diálogo com esse Ministério, que coordena as políticas públicas federais para a popularização da ciência, se deu de forma proveitosa desde a fundação da nossa entidade.
Depois de um longo período de ampliação do campo da popularização da ciência, e dos centros e museus de ciências em particular, acompanhamos com pesar o atual momento de grande perplexidade e receio quanto ao futuro desse campo. Esse desenvolvimento foi especialmente verificado a partir dos anos 1980, conforme pode ser observado nas edições de 2005, 2009 e 2015 do Guia de Centros e Museus de Ciência do Brasil, coordenado pela ABCMC, que registram respectivamente 110, 190 e 268 instituições dessa natureza no país. Apesar do grande desenvolvimento citado acima, trata-se de uma política historicamente muito recente, com importantes questões a serem equacionadas. Por exemplo, podemos observar no Guia 2015 que muitas capitais não dispõem sequer de um museu de ciência de porte, que possa atender à população local e funcionar como centro propulsor da popularização da ciência nesses Estados.
Lamentamos, ainda, o desmonte gradual de museus históricos, como a Estação Ciência e o Museu de Ciência e Tecnologia da Bahia (MCT/BA), entre outros que passam por dificuldades até para permanecerem funcionando.
O museu Estação Ciência (USP) iniciou um processo de dispersão de profissionais altamente qualificados para outras unidades da universidade, depois veio o fechamento provisório e finalmente foi anunciado o fechamento definitivo dessa referência do nosso campo.
Exemplo de decadência, decorrente da falta de consciência em relação à importância da popularização da ciência para a formação cidadã de jovens e adultos, é o caso do Museu de Ciência e Tecnologia da Bahia. O MCT/BA, que tem um papel histórico de pioneirismo entre os museus interativos brasileiros, há muitos anos vem sendo sucateado, assim como sua unidade móvel, o “Ciência Móvel”. Trata-se de um patrimônio do Estado da Bahia que foi ao longo dos anos posto à deriva. O seu prédio, especialmente projetado para servir de sede para o museu, portanto, portador de valor histórico, foi transformado em área administrativa e a população privada do seu importante acervo.
Outros museus vivem em permanente expectativa quanto à própria sobrevivência, por dificuldades financeiras, políticas e administrativas, inclusive alguns ameaçados de extinção. Nos últimos tempos nos chegaram relatos preocupantes desse tipo de problemas sobre alguns espaços de Vitória (ES), como o Planetário de Vitória (1995), a Praça da Ciência (1999), a Escola da Ciência – Física (2000) e a Escola da Ciência – Biologia e História (2001); sobre a Fundação Zoobotânica do Rio Grande Do Sul (FZB), que presta relevantes serviços à sociedade por meio de seus três órgãos, o Museu de Ciências Naturais, o Jardim Botânico e o Parque Zoológico; sobre o Museu Ciência e Vida, implantado no Município Duque de Caxias (RJ), que passa pelas mesmas dificuldades do Estado do Rio de Janeiro. Algumas instituições afirmam que montaram grupos de trabalho para tratar dessas questões, mas as dificuldades vêm se perpetuando ao longo do tempo.
É inadmissível a situação dessas instituições, que fizeram história na área da popularização da ciência, sobre as quais não sabemos qual será o final e consideramos imperiosa uma ação desse Ministério, órgão máximo das políticas públicas para a área, através de iniciativas no seu próprio âmbito e de articulações com outras instâncias governamentais que possam reverter esse difícil momento.
Uma questão que certamente viria atender a algumas necessidades imediatas de muitos museus seria a liberação dos restos a pagar da Chamada MCTI/CNPq/SECIS nº 85/2013 – Apoio à criação e ao desenvolvimento de Centros e Museus de Ciência e Tecnologia com recursos do FNDCT. Pelo que sabemos dos R$ 20 milhões previstos no edital, mais da metade desse valor ainda não foi liberado.
Por outro lado, a comunidade dos centros e museus de ciência reclama por informações desse Ministério a respeito de novos editais para a área, neste ano de 2017. Os editais se mostraram um importante mecanismo de alocação de meios, dado o seu caráter democrático e sua exigência de projetos qualificados. Como grande parte dos centros e museus de ciência desenvolve outras atividades de popularização da ciência, essa comunidade demanda também apoios e editais específicos para Olimpíadas Científicas, Feiras e Mostras Científicas, projetos Ciência Móvel, Planetários Móveis e eventos em geral da área, como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e o Biênio da Matemática, que a ABCMC também participa da Coordenação Nacional e que engloba a Olimpíada Internacional de Matemática, em 2017, e o Congresso Internacional de Matemáticos, em 2018.
O atual documento da ENCTI (Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação- 2016/2019) ao definir a temática “Ciências e Tecnologias Sociais” como um de seus temas estratégicos, confere especial atenção à importância da educação científica da população brasileira como forma de garantir a soberania do país no século XXI nos âmbitos nacional e internacional. Essa temática tem sido continuamente contemplada em documentos estratégicos na área de Ciência e Tecnologia, frutos das Conferências Nacionais de Ciência e Tecnologia que aconteceram, em 2001, 2005 e 2010. Nesta última, na IV Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, foi aprovada a agenda “Pop Ciência 2022”, à qual sugerimos especial atenção. O tema da Educação Científica da população brasileira também foi foco da ENCTI 2012-2015. A atual ENCTI, ao definir como um de seus objetivos “Desenvolver e difundir conhecimento e soluções criativas para a inclusão produtiva e social, a melhoria da qualidade de vida e o exercício da cidadania”, estabelece a meta “Promover a melhoria da educação científica, a popularização da C&T e a apropriação social do conhecimento” como uma das estratégias associadas ao referido objetivo.
O cenário exposto evidencia o papel estratégico da Divulgação e Popularização da Ciência e Tecnologia e a necessidade do reconhecimento da socialização da cultura científica enquanto determinante para a formação cidadã e para o crescimento da produção científica e tecnológica do país e, consequentemente, de dar sequência à implantação de políticas estruturantes para o setor, assim como ao oferecimento de meios mais robustos, regulares e sistemáticos que garantam a continuidade do desenvolvimento do campo da popularização da ciência, através de editais e outras formas de fomento.
Agradecemos a atenção e nos colocamos à disposição para discutir as questões elencadas acima e outras que sejam colocadas em pauta e contribuir para o enfrentamento dos desafios, que ainda são muitos, para a melhoria da educação científica e da popularização da cultura científica em nosso país.
Atenciosamente,
José Ribamar Ferreira
Diretor Presidente
Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC)