Texto: Ana Bueno
É notório o sucesso profissional e na remuneração dos egressos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), que ainda demonstra sua importância na formação de novos cientistas e no fortalecimento da Ciência brasileira. E constatou-se que os egressos mesmo com doutorado sendo mulheres e das áreas de humanas a remuneração ainda é menor que de homens e das áreas de exatas e saúde
Um importante programa de Iniciação Científica (IC) aos estudantes de graduação é o Programa Institucional de Iniciação Científica (Pibic) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que foi recentemente avaliado e lançado um estudo pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), intitulado “A Formação de Novos Quadros para CT&I: Avaliação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic)”. As publicações são de acordo com a agenda do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) e nesta edição em questão trouxe avaliações sobre o Pibic e Pibiti e a formação de futuros quadros de CT&I nas diversas áreas de pesquisa científica.
Os resultados apresentados no estudo discorrem sobre a necessidade de novas avaliações do ensino superior do Brasil, particularmente os de pós-graduação e pesquisa. E, ainda, destaca a trajetória e a inserção profissional dos egressos.
Muitos dos objetivos do Pibic foram alcançados e devem ser avançados até para se corrigir disparidades sociais encontradas nele tanto quanto em nossa sociedade. As disparidades de gênero, raça e classe social dentre os bolsistas do Pibic, percebidas nos estudos do CGEE, acontecem devido à falta de precisão do Programa em buscar um apoio especial àqueles que já sofrem com as desigualdades na sociedade. A subjetividade na distribuição das bolsas não deixa claras as distorções ocorridas com os apoios sociais e científicos a certas áreas de pesquisa e a estes ou aqueles grupos sociais, mas devem ser consideradas. Chama atenção aos dados apresentados sobre os egressos e o sucesso dos bolsistas que permaneceram por mais tempo com as bolsas e os que não tiveram a mesma oportunidade. Estas são questões que merecem atenção especial à espaços que propõem contribuir com o desenvolvimento científico e também nacional.
O Pibic é uma política de IC desenvolvida por Instituições de Ensino Superior e/ou Pesquisa com cotas de concessão de bolsas de até 12 meses e somente para estudantes de graduação, indicados pelas/os professoras/es orientadoras/es. O modelo atual é dos anos 1980, com interação entre o CNPq e as Instituições de Ensino Superior e/ou Pesquisa, deixando-as encarregadas pela seleção dos projetos, orientadores e bolsistas, visto que as bolsas passaram a ser distribuídas diretamente às Instituições e não mais aos indivíduos. E é o CNPq que estabelece os critérios de avaliação, juntamente com uma comissão de pesquisadores.
O Pibic expandiu-se para todos os Estados brasileiros nas mais diversas Instituições de Ensino e Pesquisa. E em 2007, foi criado o Programa de Bolsa de Iniciação Tecnológica (Pibiti) sob os mesmos moldes, mas voltado aos estudantes de Ensino Superior Tecnológico.
Distribuição de bolsas por Região do Brasil
No período de 2001 a 2013 o número de bolsas Pibic quase dobrou, passando de 14,5 mil para 24,3 mil, um aumento de +67% nos recursos. Já as Pibiti, implantadas em 2007, chegaram a 3.392 bolsas em 2013. No mesmo período o número de bolsas diretas do CNPq, as bolsas não institucionais, caiu em 46%. Conforme se observa no Gráfico 1:
O CGEE destaca que apesar de o Pibic, Pibiti e IC apresentarem tamanho crescimento as matrículas na graduação pública e na pós-graduação cresceram bem mais, com +104% e +116% respectivamente. No Gráfico 2 observa-se o crescimento das bolsas por região, no mesmo período de 2001 a 2013, com número de bolsas distribuídas (por mil alunos). Ao mesmo tempo o crescimento de matrículas no ensino superior foi de 103%, contra 92% de ofertas de bolsas institucionais.
Infelizmente houve perdas significativas na distribuição de bolsas institucionais, Pibic e Pibiti, em todos os Estados, mas principalmente na região Sudeste, Tabela 1. E na Tabela 2 tem-se os números de matrículas na graduação e distribuição de bolsas por região brasileira.
Distribuição de bolsas por área de pesquisa
Conforme os dados da Tabela 3, distribuição de bolsas institucionais por área de pesquisa – entre os anos de 2001 a 2012, observam-se grandes disparidades na distribuição dessas bolsas. Destacamos as últimas colunas (em amarelo e vermelho) que apresentam os dados totais e de Instituições de Ensino Superior (IES) públicas. Vejam que enquanto as Ciências Biológicas receberam 68,6 bolsas por 1000 matrículas as de Ciências Sociais Aplicadas receberam apenas 3,8 bolsas.
Distribuição de bolsas por gênero
Sobre a distribuição de bolsas por gênero as pesquisas do CGEE apontam que as mulheres foram mais contempladas que os homens ao longo dos anos de 2001 a 2013 tanto Pibic quanto Pibiti. Todavia, o percentual de bolsas distribuídas às mulheres foi reduzida nos Pibiti, mesmo que ainda se mantenha um percentual baixo de diferença, em torno de 2%, conforme Gráfico 4. Apesar da expansão dos Programas de IC, não foi suficiente para acompanhar o crescimento das matrículas no ensino superior, que foi bem maior.
Interesse na continuidade da pesquisa Pibic na pós
O interesse em cursar a pós-graduação, a intenção em dar continuidade ao projeto de pesquisa foram analisados em relação ao tempo de bolsa, à frequência dos encontros com os orientadores, às características do projeto e à participação deles em redes de colaboração, dados no Gráfico 5.
Com avaliação positiva do Pibic pelos bolsistas, em suas experiências e aprendizados, 67% deles tiveram interesse em seguir para uma pós-graduação, dando seguimento em seus projetos de pesquisa sejam em outros projetos, conforme os Gráficos 9 e 10.
Avaliação dos orientadores/as e CNPq
Os orientadores avaliam positivamente o Pibic com incentivador da continuidade em estudos de pós-graduação e no futuro científico. Já a habilidade com línguas estrangeiras é considerada insatisfatória pelos orientadores, visto que apenas 40% superaram essa deficiência, questão preocupante para o futuro da internacionalização da ciência brasileira.
Em suma o CNPq avalia que os Programas dão mais base aos seus bolsistas de modo que os levam a serem mais bem sucedidos no futuro enquanto pesquisadores científicos, devido ao desenvolvimento e incentivos dados a esses bolsistas.
Egressos e a pós-graduação
Como dar seguimento à pós-graduação é um dos objetivos do Pibic, o CNPq deu seguimentos às suas pesquisas até os egressos. E constatou-se que 28,8% dos egressos totais, 192.683, cujo último ano de bolsa ocorreu entre 2001 e 2013, deu seguimento na pós-graduação stricto sensu. Porém, 71,2% não concluíram um programa de pós, Tabela 4.
Uma explicação sobre a participação de egressos na pós-graduação é sobre o número de bolsas, devido ao tempo recebido pelo estudante. Tal questão é primordial para que esse bolsista siga para desenvolvimento de uma carreira científica. Assim, o próprio relatório afirma: “os egressos que receberam bolsas por um período maior têm maiores chances de concluir o mestrado, para todos os anos-base”, já “As quedas apresentadas pelas curvas em anos mais recentes decorrem da diminuição do tempo para que se dê a titulação no mestrado” (CGEE, p. 25). Esses dados podem ser analisados no Gráfico 13.
Egressos empregados e remuneração
O número de egressos formalmente empregados no final de 2014 foi de 50,6% do total dos bolsistas até 2013. Desses egressos o percentual de mestres é de 55,8% e de doutores de 66,3%. Indicativos do sucesso na empregabilidade conforme a titulação.
Sobre a remuneração as análises estatísticas feitas deram uma mediana dos salários dos egressos e comprovaram que aqueles que não fizeram uma pós tiveram salários em torno de R$ 4.605, já os mestre com recebimentos de R$ 6.042 e doutores no país e exterior são de R$ 10.061 e R$ 10.216 respectivamente. Constatou-se ainda que os altos salários dos egressos de 2003 sendo superiores aos de 2008, se deram possivelmente devido a aumentos por tempo de serviço e impactos da titulação máxima – Gráfico 15.
Interessante destacar as disparidades na remuneração por áreas científicas, onde egressos das Engenharias e Ciências de Computação, seguidos dos das Ciências da Saúde, apresentam remuneração entre 70 e 50% mais elevada que os egressos das áreas de Linguística, Letras e Artes, Ciências Humanas e Biológicas.
Outra disparidade está na remuneração por gênero, sendo que os homens ainda recebem mais que as mulheres. Quanto maior a titulação da mulher menor a diferença salarial, todavia, ainda persistente. A maior diferença salarial está entre os mestres que é de 35% e a menor entre os doutorados no exterior com 15,3% em desfavor das mulheres, conforme dados na Tabela 7.
Há uma forte contribuição para o seguimento da pós-graduação para os egressos do Pibic, de modo a levá-los a ter sucesso na carreira profissional e boa remuneração conforme a titulação.
O Relatório do CGEE ressaltou as disparidades regionais do país, apontando as chances de empregabilidade e sucesso acadêmico nas instituições mais tradicionais e das regiões mais privilegiadas do país, como Sul e Sudeste. Do mesmo modo, a existência de cursos de pós-graduações nessas instituições favorecem a continuidade dos egressos ao Mestrado e Doutorado.
Sobre o emprego dos egressos no Relatório CGEE afirma-se: “A chance dos egressos do Pibic trabalharem em instituições nas quais as atividades ‘Educação’ e ‘Profissionais, científicas e técnicas’ eram dominantes, comparada com a dos que não participaram do programa, não mostrou diferenças significativas. No entanto, para os que concluíram o mestrado e o doutorado a chance de estar empregado em instituições com tais atividades era significativamente maior (mestres 2,54 vezes e doutores 3,53 vezes) do que para aqueles que não fizeram pós-graduação. Assim, o efeito do Pibic na formação de pessoal para essas atividades, embora indireto, é importante e se dá por meio do estímulo para cursar a pós-graduação” (CGEE, p. 40).