Mesa do 5º Salão da ANPG debate assédio moral e sexual na academia
“Você é uma franga sem doutorado que precisa colocar o rabo entre as pernas, parar de enfrentar professor doutor e aprender a jogar o jogo da academia, caso queira continuar nela”, disse um orientador a sua orientanda. Este relato foi apresentado pelo pesquisador sobre assédio moral, André Luiz Souza Aguiar, professor da UFBA, durante o debate “Academia, Assédio e Adoecimento na Pós-Graduação”, realizada na manhã desta sexta-feira (21), no 5º Salão Nacional de Divulgação Científica, na UFMG.
“O conceito de assédio moral no trabalho, e que pode ser aplicado na academia, é qualquer conduta abusiva que atente por sua repetição ou sistematização contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa ameaçando ou degradando o clima de trabalho”, explica Aguiar.
Isolamento, dignidade violada, violência física, verbal ou sexual. O assédio na pós-graduação é uma realidade, apesar de muitos preferirem não encarar o problema. “A permanência do assédio ou qualquer violência se passa pela omissão dos gestores. Um professor não é autônomo o suficiente para fazer o que ele quer, ele é subordinado a alguém”, disse o pesquisador.
Depois de publicar o artigo “Precisamos falar de vaidade na vida acadêmica”, em sua coluna na Carta Capital, a cientista social e antropóloga, Rosana Pinheiro Machado, da USP, recebeu mensagens de pós-graduandos e pós-graduandas que a procuraram pedindo ajuda. O artigo virou uma espécie de manifesto, estampou os murais de universidades, e os relatos das pessoas que a procuraram viraram o livro “Pequena História da Opressão Acadêmica”. “O nosso sistema acadêmico é extremamente doente e por isso faz adoecer”, disse Rosana durante o debate.
Insônia, falta de apetite, que levam a pessoa a minguar e ao uso de antidepressivos, diz a professora, são algumas das consequências no assediado. E ela salienta que as vítimas dessa opressão têm raça, gênero e sotaque. “Estudantes do interior ou de regiões do nordeste são bastante discriminados”, comentou a professora.
A presidenta da ANPG, Tamara Naiz, lembrou que embora o Brasil seja o país onde as mulheres realizem a maior parte das pesquisas, o ambiente acadêmico ainda é muito hostil para elas. “67% das mulheres já sofreram assédio no ambiente acadêmico”, disse.
Combate ao assédio
O assédio na academia se passa na relação orientador X orientando, mas também entre os próprios pós-graduandos. “O que temos feito? Estamos trabalhando para a ruptura ou para a perpetuação desse processo?”, questiona Renata Rosa, da Subsecretaria de Políticas para as Mulheres de Minas Gerais e pesquisadora na PUC-MG.
“Precisamos botar o dedo na ferida se quisermos avançar e fazer desse momento não só um lugar para depoimentos, mas também de encaminhamentos”, diz Renata.
No debate, destacou-se muito a importância da solidariedade entre os estudantes. “O combate ao assédio começa com a denúncia aos órgãos competentes e legais. Mas, não se combate o assédio de forma isolada e sem o apoio do coletivo”, comentou o pesquisador da UFBA, André.
A ANPG criou um Grupo de Trabalho sobre assédio na pós-graduação, para avançar na elaboração sobre o tema.
Por Natasha Ramos