O estado do Rio de Janeiro sofre a maior crise de sua história, que vem se generalizando e atingindo em cheio a UERJ. Fundada em 1930, a universidade desenvolve atividades que por muito tempo foram de interesse direto dos governos. Hoje, tanto na esfera estadual quanto na federal, a UERJ parece ter se tornado um assunto para o final da pauta. Educação, ciência e tecnologia são atingidas pelo tesourão da austeridade. Como resultado, milhares de trabalhadores estão sem receber seus salários, alguns desde maio, e estudantes ficam sem assistência estudantil e aulas. Muitos estão dependendo da doação de cestas básicas para sobreviver e da ajuda de parentes e amigos para terem onde morar.
A saída apresentada pelas direções até agora foi a de greves, longas greves, interrompidas por períodos curtos de aula chamados de “períodos de mobilização”. Mas essa política não tem dado muito certo. Atos, assembleias e deliberações não tem tido a adesão necessária para a conquista do básico: continuar funcionando. Ao contrário do esperado, a solidariedade externa e a luta interna crescem em ritmo insuficiente para o tamanho dos problemas. Continuar e terminar um curso de graduação ou pós-graduação na UERJ não é mais certo para ninguém, e alguns alarmistas com o objetivo de chamarem a atenção para si falam em “fim da UERJ”, agravando mais ainda a desmobilização e esvaziando a universidade. Cresce a cada mês o número de docentes renomados na comunidade científica que pedem exoneração e de graduandos e pós-graduandos que abandonam a universidade por não receberem mais bolsas, não terem bandejão em funcionamento, passe livre para transporte, etc.
Portanto, a resposta das direções para esse grave momento até agora foi insuficiente e até mesmo equivocada em certos aspectos. Alguns eventos acadêmicos em forma de debate atraem poucas pessoas e atos de rua com a bandeira principal “A UERJ não está normal” reúnem no máximo 500 participantes – isso em uma universidade que, segundo dados próprios, reúne 28 mil estudantes, 4 mil técnicos administrativos e 2 mil docentes. São mais de 35 mil pessoas passando pela pior crise da história da instituição e as direções optam por debates acadêmicos, pautas brandas de impacto midiático, e pressão parlamentar?!
O problema dessa tática é que palestras, e reportagens no RJ TV e no Jornal Nacional não vão mobilizar a câmara de vereadores, a assembleia legislativa, e o governo do estado. A desmoralização das instituições burguesas é tão grande, que o escândalo da UERJ é mais um dentre as centenas de outros no estado e no país que fazem a situação estar “anormal”. A atitude das direções em busca da “normalidade” é uma sabotagem, mesmo que inconsciente, ao direito de mais de 35 mil uerjianos a trabalharem e estudarem, e de milhões de outras que querem trabalhar e estudar. A UERJ é mais uma prova na história da decadência do capitalismo de que nem o pior dos desesperos trará vitórias duradouras sem uma direção revolucionária. Mesmo conquistas parciais converteram-se em feitos improváveis. É preciso organizar a revolução.
No ensino superior como um todo, apenas 19% dos jovens (PNAD, 2009) conseguiram ingressar na universidade, dentre os quais apenas 36% concluem seus cursos (INEP, 2013). Isso é menos que 7% dos jovens! As massas não se satisfazem mais com essa “normalidade” de antes da greve na UERJ, portanto voltar a ela não as impele à luta. É mais que urgente apresentar a bandeira histórica de educação pública, gratuita e para todos, despertando milhares de jovens para a luta, trazendo para a UERJ a solidariedade de outras universidades e de todo o movimento da educação a nível nacional. Os revolucionários devem nos espaços de reunião da UERJ reivindicar uma Greve Nacional da Educação e construir centros acadêmicos, diretórios de estudantes, sindicatos e comandos de greve fomentando a auto-organização das massas.
Diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação
Pedro Henrique Corrêa
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