Mulheres deste Brasilzão, neste 29 de setembro de 2018 nós começamos a derrotar o Bolsonaro e as ideias fascistas que ele representa, que exalta agressões que todas as mulheres sofrem de alguma maneira todos os dias. A cultura do estupro, a violência doméstica, a desigualdade salarial, o racismo estrutural, a tentativa de nos excluir dos espaços públicos, a subestimação. A reação veio em sentido contrário e com mais intensidade.
Foi um dia de muita emoção que renovou nossas esperanças no futuro. Foram mais de 200 cidades no Brasil e no mundo. A mais bela demonstração da força social que emerge vigorosa e consistente, a força feminina e feminista. Prevaleceu não o revanchismo, mas os melhores sentimentos humanitários e democráticos.
O #EleNão virou um movimento político, que extrapolou qualquer sentimento corporativo que o reduza à temática de gênero. Trata-se da expressão de uma maioria social por tanto tempo invisibilizada, que tomou para si a responsabilidade de contribuir para a construção de um projeto de Brasil.
As maiores beneficiadas por políticas públicas de qualidade, como saúde, educação, creches, acesso ao crédito, habitação e empregos dignos somos nós mulheres. Ao passo que também somos as maiores vítimas de políticas como a EC95, o draconiano “teto de gastos” que congela investimentos por 20 anos, como o fim dos direitos trabalhistas e como o desemprego.
Acreditamos num país em que todos os brasileiros e brasileiras tenham oportunidade de serem felizes e terem uma vida digna. Queremos uma política econômica voltada a geração de emprego e renda; a revogação da EC 95 do teto de gastos, da reforma trabalhista e da Lei de Terceirizações; liberdade religiosa e garantia do Estado laico; fim do “Escola sem partido” e da censura que se impõe sobre a ciência e ao pensamento crítico; o equilíbrio entre os poderes constituídos da República e o respeito à Constituição brasileira; direito à salários iguais entre homens e mulheres e o direito de decidirmos sobre nossos corpos; por uma nova política de segurança e por uma nova cultura de paz. Por isso ocupamos as ruas. Queremos democracia, trabalho, paz e igualdade!
O dia 29 de setembro foi também uma importante manifestação de legitimação do processo eleitoral em curso. Bolsonaro ameaça não reconhecer o resultado das eleições caso ele perca. A força demonstrada nas ruas blinda a sociedade de viver mais um golpe, como anuncia o “coiso”. Não respeitar as ruas terá um alto custo para o país.
Mas mais do que isso, a força do movimento político impulsionado pelo #EleNão pode reverter a tendência reacionária que tomou conta da sociedade brasileira e nos levar a uma vitória eleitoral, que reverta o Estado de Exceção vigente desde o golpe de 2016.
Importantes candidaturas se fizeram presentes nas manifestações de São Paulo. Manuela D’Ávila, candidata a vice presidenta do Fernando Haddad pelo PT; Kátia Abreu, candidata a vice presidenta de Ciro Gomes pelo PDT; a candidata a presidência Marina Silva pelo PV; Sônia Guajajara, candidata a vice presidenta de Guilherme Boulos pelo PSOL. O movimento #EleNão pode contribuir na sedimentação de uma ampla aliança nacional antifascista no segundo turno, criando vínculos políticos entre diferentes programas capazes pavimentar a vitória do campo democrático, nacional e popular.
O recado foi retumbante: #EleNão #EleNunca. Nosso dia foi vitorioso, foi unitário, contou com a grandeza de mulheres maravilhosas, que a revelia das diferenças que temos, entenderam que o que estava em jogo era muito maior, a derrota do fascismo e a possibilidade de planejar o futuro. Um dia para a história. Uma página linda escrita por nossas mãos.
Venceremos com a força da generosidade que nos uniu!
A próxima manifestação será nas urnas, no dia 07 de outubro. Venceremos!
*Flávia Calé é mestranda do Programa de História Econômica da USP e Presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduandos – ANPG.