III EME da ANPG retrata empoderamento das mulheres pós-graduandas

Espaço de auto-organização da luta feminista, o III Encontro de Mulheres Estudantes da ANPG, além de dar voz e trazer à tona as pautas específicas que afetam as pós-graduandas, foi um momento marcante de empoderamento: pela primeira vez em sua história, a mesa diretora da entidade é integralmente composta por mulheres – a presidenta Flávia Calé, a vice Stella Gontijo e a secretária-geral Raquel Luxemburgo.

Participaram do Encontro mais de 220 lideranças, representando APGs de diversas universidades do país, que puderam acompanhar e contribuir nos debates realizados de maneira híbrida (presencial e on line), como etapa preparatória do 28º Congresso Nacional da ANPG.

Antes da mesa inaugural, os grupos de trabalho já debatiam questões fundamentais para a pós-graduação brasileira, como os desafios adicionais enfrentados pelas mães cientistas para manter os níveis de produtividade acadêmica e as dificuldades de acesso e permanência de indígenas e quilombolas, populações historicamente discriminadas.

Foto: Patricia Santos – ANPG

A mesa de abertura, que ocorreu na sexta-feira (10/06) à noite, discutiu o tema “Mulheres cientistas pela democracia: ocupar o poder e tecer um novo Brasil” e foi marcada pelo tom crítico ao projeto de desmonte da Ciência e Tecnologia e da Educação preconizados pelo governo Bolsonaro.

Além de Bruna Brelaz e Jade Beatriz, presidentas das entidades co-irmãs UNE e UBES, contribuíram nessa rodada a professora Ana Lanna, pró-reitora de Inclusão e Pertencimento da USP; a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, a primeira a ocupar o posto na centenária universidade; Sofia Manzano, professora da UESB; a mestranda do INPE, Gabryele Moreira; e Mariana Moura, criadora do grupo Cientistas Engajados.

 

Denise Pires durante transmissão da Mesa de abertura.

O segundo dia foi aberto com a pauta “Mulheres transformam a ciência: luta por direitos e o novo Plano Nacional de Pós-Graduação”, tendo como debatedoras a vice-presidenta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Fernanda Sobral; professora Sandra Goulart, reitora da UFMG; a doutoranda Luane Bento, representando a Associação Brasileira de Pesquisadoras Negras; Geovana Lunardi, presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd); e Flávia Calé, presidenta da ANPG.

 

Presidenta da ANPG, Flávia Calé no segundo dia do III Encontro de Mulheres Estudantes.

A tônica das explanações foi o atraso na construção do Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG), que deve nortear os objetivos estratégicos da área para a próxima década. Foi consenso entre as debatedoras que os avanços na participação feminina na pós-graduação, chegando a ser maioria entre os estudantes matriculados, ainda não se reverte nos postos de maior poder de mando em virtude do chamado “efeito tesoura”.

Para elas, o novo PNPG deve colocar no centro o enfrentamento dos gargalos estruturais do país, além de conduzir políticas públicas afirmativas que proporcionem melhores condições para as mães cientistas, as cotas raciais que insiram pesquisadoras e pesquisadores negras e negros, dentre outras.

Na parte da tarde, novos grupos temáticos reuniram as participantes em discussões sobre as perspectivas das cientistas nas atuais condições do mundo do trabalho; o assédio moral e sexual e seus impactos na saúde das pós-graduandas; e as políticas públicas para ampliar a presença de mulheres negras na produção científica.

A mesa de encerramento debateu as “Contribuições do pensamento feminista para a produção do conhecimento científico” e contou as colaborações da socióloga e professora Mary Castro; Clarisse Paradiz, professora da UNILAB; a mestra em Antropologia Luana Kumaruara, Daniela Costa, chefe de gabinete da Secretaria de Política para Mulheres da Bahia; Renata Regina, do Coletivo Ana Montenegro; e Carol Azevedo, diretora de Mulheres da UNE.

As debatedoras criticaram a ideia de “sujeito universal”, que acaba por reproduzir uma espécie de “conhecimento oficial”, formulado em geral pela contribuição teórica de homens brancos e de origem europeia, invisibilizando outros saberes. Além disso, negaram o rótulo de identitarismo, algumas vezes atribuído ao feminismo no debate acadêmico, realçando o entrelace entre classe, gênero e raça na formulação de ideais para a emancipação social.