Na tarde desse primeiro dia do já exitoso 45º CONAP, os debates se voltaram para o desafio de reindustrialização do país e o papel da pós-graduação nesse processo. O painel foi mediado por Vinícius Soares e teve como debatedores o ex-senador a atual Secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social do MCTI, a presidenta da Capes, Mercedes Bustamante, e o deputado federal Renildo Calheiros.
Inácio Arruda falou sobre a importância de transferir a tecnologia para a apropriação por grandes parcelas do povo, envolvendo milhões de brasileiros no processo de desenvolvimento. “É preciso confiar na sabedoria do nosso povo, transferir tecnologia através de tecnologias sociais. Como o povo vive nas favelas desse país? Já existe muita pesquisa sobre isso, mas a verdade é que ele resolve problemas concretos, objetivos, para conseguir sobreviver nessas comunidades. Então, é preciso construir ciência para resolver esses problemas concretos”, disse.
O secretário frisou que aposta na pressão popular para que o governo consiga reunir forçar para fazer as transformações necessárias ao país e conclamou uma grande mobilização no processo de conferências que será realizado. “Lula venceu com mais de 50% dos votos, mas não conseguimos eleger sequer 1/3 do Congresso Nacional. Por isso, o presidente tem dito que precisa da pressão popular para ajudar o governo. Os movimentos têm suas próprias agendas, mas teremos as conferências. Tivemos um grande Conferência de Saúde e vamos ter outras conferências, vamos ter a Conferência de Educação e a Conferência de Ciência e Tecnologia, que serão espaços institucionais para a pressão popular ser canalizada por esses caminhos que fortalecem as políticas públicas”, afirmou.
Para Inácio, políticas como o déficit zero dificultam criam amarras ao desenvolvimento, mas são fruto de pressão das elites, portanto, é preciso contrapressão para balizar as decisões políticas mais importantes. “Essas decisões fundamentais para os destinos do país não vêm num raio em céu azul. É preciso debate e discussão e, sobretudo, decisão política! Ao invés de formar técnicos capacitados aqui e exportar para outros países, vamos fazer ao contrário: vamos convidar esses jovens para voltarem ao Brasil, vamos oferecer oportunidades aqui”, concluiu.
A presidenta da Capes, Mercedes Bustamante, rememorou o período coincidente de fundação da Capes (1951), CNPq (1951) e BNDES (1952) como a demonstração de um Estado que se equipava para dar um salto de desenvolvimento. “A Capes tem 76 anos, nasceu junto com o CNPq e o BNDES. Via-se que o Brasil apostava em um ciclo de industrialização”.
Bustamante relatou as dificuldades herdadas do governo anterior como um grande entrave e que tem exigido um esforço de reconstrução de políticas, desde a própria formulação do orçamento. “No orçamento do mandato anterior, só havia recursos para a Capes funcionar até setembro. A PEC da Transição possibilitou que tivéssemos recursos para funcionar, que pudéssemos fazer o reajuste das bolsas, mas não permitiu ainda que retomássemos o programa de pós-doutorado, que permitirá essa fixação dos cientistas aqui”, disse.
A professora também reforçou a necessidade de maior interação entre a academia e a indústria para que a mão de obra especializada possa encontrar caminhos no mercado. Precisamos pensar na empregabilidade. Por que nossas empresas absorvem pouco esses recursos humanos? Esse é um debate que temos que fazer junto com a ciência e tecnologia”. “As balizas do trabalho da Capes têm sido diálogo, transparência e estabilidade, previsibilidade para que o estudante saiba que ele vai iniciar e terminar com a bolsa dele garantida. Esse Brasil do século XXI é de vocês e cabe a nós apoiar”, finalizou.
“Aqui no Brasil está presente 20% de toda a água doce do mundo. Somos o segundo mais rico do mundo em minérios. Temos a fauna e a flora mais ricas do mundo. Somos um país muito grande, com mais de 200 milhões de pessoas, e falamos uma única língua. Não temos lutas separatistas ou por fronteiras. Essas são riquezas que nem se consegue dimensionar”, iniciou o deputado federal pernambucano Renildo Calheiros, abordando as imensas potencialidades do país.
Para o parlamentar, não faz sentido que o país subaproveite tamanhas riquezas e mantenha contido seu potencial de desenvolvimento. “O Brasil já chegou ao ponto de ser um país de produção importante de petróleo, mas nós exportamos o petróleo e importamos gasolina e óleo diesel. Precisamos investir em pesquisa e investir na transformação dessa pesquisa em bens, produtos e serviços, porque isso é o que eleva a qualidade de vida da população”, afirmou.
Na opinião do deputado, por trás dessas opções que mantém o país subalterno está um projeto das elites que se voltam para fora. “Mesmo com toda essa riqueza, sustentamos a vergonhosa condição de maior desigualdade do mundo. Somos os maiores produtores de grãos e temos parte da nossa população passando fome. Isso porque nossas elites econômicas sempre governaram o país de costas para o povo e sempre se deu pouca atenção a sua industrialização”.
Renildo frisou que Lula assumiu o país em uma situação muito difícil e esse não é um problema só do governo, mas da sociedade brasileira, porque as políticas públicas precisam de recursos para serem feitas. “Temos que ter voz ativa, brigar por isso, pressionar por isso. Precisamos transformar esse país maravilhoso, com todo esse potencial, num lugar cada vez melhor para se viver, trabalhar e prosperar”, finalizou.