Foto: Natasha Ramos / ANPG
A 15ª edição do Encontro Nacional de Jovens Cientistas, realizado pela ANPG, em parceria com a UBES e a UNE, na última sexta-feira (25), na Universidade Federal do Acre (Ufac), teve como tema “A Juventude quer Ciência: Democratizar para Transformar””. Como já é tradição, o encontro foi realizado como parte da programação da Reunião Anual da SBPC.
O debate foi mediado pela presidenta da ANPG, Tamara Naiz, e contou como convidados o Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Acre, Marcelo Minghelli; o professor Ildeu de Castro Moreira, da UFRJ, ganhador do prêmio José Reis de Divulgação Científica (2013) e Conselheiro da SBPC; e Bárbara Melo, presidenta da UBES.
Ildeu de Castro iniciou a discussão defendendo a criação de espaços onde as pessoas tenham acesso à ciência de forma mais atraente e acessível. Além disso, comentou sobre importância de se democratizar os meios de comunicação para que se possa produzir e transmitir programas científicos nas emissoras de televisão, como uma forma desse conteúdo chegar mais facilmente à população.
“Temos que discutir a ciência no seu real. Quando a gente debate a popularização da ciência, devemos, ao mesmo tempo, reconhecer que hoje, por exemplo, 50% do recurso para pesquisa científica do mundo é para desenvolver arma. Essa é uma informação importante na divulgação da ciência. Isso é uma questão muito mais ampla do que isso, é política, de prioridades”, diz Ildeu. Por fim, comentou que é preciso se organizar mais eventos de divulgação científica, como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT).
Em seguida, Marcelo Minghelli, alertou para a necessidade de uma política séria para as várias regiões da Amazônia, com um caráter redistributivo dos recursos e a desconcentração das riquezas.
“A mídia fala muito de reforma tributária, mas fala muito pouco de reforma financeira, e veja que a nossa lei orçamentária é de 1964, o que torna quase impossível para um gestor operar com uma Lei tão defasada. A questão não é de quem você arrecada, ou quanto você arrecada, tão importante quanto é para quem você gasta e onde você gasta. E no caso da Ciência e Tecnologia e Educação, nós começamos a reverter esse quadro em apenas alguns segmentos, como o da Educação, com a criação dos Institutos Federais. Mas, no que se refere à C,T&I, nós ainda temos muito que avançar:, xplica Minghelli. “Em algumas políticas públicas, nós temos 30% de recursos para a região norte. Só que todos os recursos de C,T&I exigem uma contrapartida e o orçamento das fundações de amparo a pesquisa, por exemplo, de Manaus, chegam a 130 milhões de reais por ano, já o orçamento da Fundação do Acre é 700 mil”, acrescenta sobre a desigualdade orçamentária.
Barbara Melo comentou que para a sociedade avançar na popularização da ciência é preciso investir em um sistema nacional integrado de ciência que irá contribuir para o desenvolvimento do país.
Tamara finalizou o debate apontando para a dimensão continental do nosso país, que possui, proporcionalmente ao seu tamanho, riquezas abundantes, mas, mesmo com o avanço nos últimos anos, ainda sofre com uma desigualdade muito grande. E a ciência deve ser um instrumento para a diminuição dessa desigualdade e não para perpetuá-la.
“É por isso que estamos aqui discutindo e debatendo a questão da Ciência, pois ela não pode ser vista com privilégio de alguns setores, ela deve servir para melhorar a vida das pessoas. Todo mundo acha que a educação é importante, mas nem todos acreditam que a Ciência é importante. O tema do nosso encontro é justamente mostrar à sociedade que a ciência não é algo abstrato, mas muito palpável e está presente no nosso cotidiano. Um exemplo disso foi a quebra de patente de um remédio contra o HIV, durante o governo Lula, que barateou a produção do remédio e beneficiou a vida de muita gente”, disse Tamara.
O encontro terminou com a participação do público, que compartilhou suas experiências e destacou que as ciências humanas também devem ser lembradas quando falamos de Ciência.
Da redação