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Jornalista ANPG

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Nós, da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), entidade representativa das pós-graduandas e dos pós-graduandos brasileiros, incluindo os residentes médicos e multiprofissionais em saúde, vimos a público demonstrar nosso apoio ao Programa Novo Mais Médicos, tendo em vista a importância do mesmo para levar saúde aos vazios sanitários existentes em nosso país, sendo uma das mais importantes políticas para cuidar de nosso povo.

Nos últimos anos, vimos um processo contínuo de desfinanciamento e desestruturação da atenção primária em saúde. O Brasil conta hoje com 69% de cobertura de atenção primária, número que demonstra as dificuldades de acesso à saúde para grande parte população.

O governo genocida de Jair Bolsonaro instituiu um programa que não alcançou o provimento adequado de médicos para a necessidade do país, que chegou ao menor número de médicos na Atenção Primária desde 2014, quando foi lançada a primeira versão do programa Mais Médicos.

O Novo Mais Médicos traz em seu escopo, além do componente de assistência à saúde, estratégias de manutenção do profissional para atuação junto às equipes da atenção primária por um período mínimo de 4 anos. Dentre essas estratégias, destacamos a continuidade da formação em nível de pós-graduação de médicos especialistas em saúde da família e comunidade, seguida por mestrados profissionais que trarão em suas pesquisas a realidade da atenção primária de nossos municípios.

O programa atuará de acordo com as áreas mais atingidas na saúde, sendo 47% das vagas já destinadas para municípios de alta vulnerabilidade.

A proposta é uma conquista contra o projeto de precarização do SUS e para a formação de profissionais cada vez mais capacitados para atender a população de maneira digna e de acordo com as necessidades identificadas pelos usuários e indicadores observados.

O programa institui ainda formas de fixação, por meio de bônus para os médicos que completarem o ciclo de 48 meses, permitindo atenção contínua a uma determinada população. Vale ressaltar que tal valor poderá ser descontado de parcelas pendentes daqueles que tiveram sua formação proporcionada por meio do programa de financiamento estudantil – FIES.

Salientamos ainda que é falsa a polêmica de ocupação de vagas por médicos estrangeiros, tendo em vista que as vagas serão preenchidas preferencialmente por médicos formados no Brasil e só o complemento será preenchida por médicos estrangeiros. Logo, o programa parte da premissa que nossa população tem direito ao atendimento médico e assistência à saúde em todo o território nacional.

A ANPG defende também que o Novo Mais Médicos seja acompanhado de uma profunda revisão na lógica de formação e acesso à graduação em medicina e da valorização de todas as categorias profissionais que atuam na saúde, através da aplicação de um plano de carreira único do SUS.

Os ataques ao programa são, em sua maioria, baseados em xenofobia e não refletem a premissa do cuidado e atenção à saúde da nossa população. A ANPG repudia o ataque daqueles que agem pelo ódio e não estão preocupados com a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros e brasileiras. Desta forma, levantaremos nossa voz para a defesa da saúde pública e do nosso povo com o grito: VIVA O SUS, VIVA A VIDA, VIVA A ATENÇÃO PRIMÁRIA DO FUTURO, VIVA O NOVO MAIS MÉDICOS!

 

Nesta quarta-feira (24), em reunião no Ministério da Previdência Social, a ANPG e o Fórum de Pró-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa (FOPROP) debateram com o ministro Carlos Lupi uma proposta para que o tempo de dedicação à pesquisa de mestrandos e doutorandos seja contabilizado para efeitos de aposentadoria. A audiência foi solicitada por intermédio do deputado Valdenor Pereira.

Atualmente, devido à situação híbrida de estudante e trabalhador, os anos que os pós-graduandos dedicam à formação acadêmica são perdidos do ponto de vista da contribuição e dos direitos previdenciários.

Esse vácuo é muito prejudicial, já que o período dedicado até a titulação como doutor é, em média, de 6 anos, somados mestrado e doutorado. Ademais, como é cobrada dedicação exclusiva aos bolsistas, não é possível ter um emprego em paralelo para recolher a contribuição ao INSS.

A ideia foi bem recebida e um grupo de trabalho interministerial e com a participação das entidades deve ser criado para formatar uma proposta de política pública que contemple essa especificidade.

“Nós apresentamos a demanda de contabilizar o tempo que a gente passa no mestrado e doutorado para a Previdência. Agora, o INSS vai fazer um estudo e, em 30 dias, apresentar como pode ser a contagem. Também será criado um grupo envolvendo os ministérios da Previdência, do Trabalho, o MEC, o MCTI, além da ANPG e a FOPROP para que a gente possa discutir o melhor caminho para viabilizar essa conquista”, disse Vinicius Soares, ao fim da reunião.

Atendendo a pedidos da ANPG e outras entidades acadêmicas, no último dia 02 de maio, a CAPES publicou a Portaria 79/2023, na qual revoga dispositivo de outra normativa (Portaria 76/2010) que obrigava os bolsistas do Programa Demanda Social a fixarem residência na mesma cidade da instituição de ensino de seu curso.

A alteração é retroativa para alcançar as bolsas concedidas antes da nova Portaria e ordena que sejam arquivados os processos administrativos que tratam de descumprimento da regra.
A decisão é uma importante conquista dos pós-graduandos, já que, em geral, as grandes universidades públicas estão localizadas em cidades conurbadas, com populosas regiões metropolitanas, como na maioria das capitais, em que há intenso fluxo de pessoas entre os municípios. Dessa forma, a fixação de residência prejudicava muitos bolsistas, particularmente os mais pobres, moradores de cidades-satélites.

Nesta quarta-feira, 10, no Rio de Janeiro, o CNPq e o MCTI realizaram a 35ª edição da entrega do Prêmio Almirante Álvaro Alberto, a maior honraria concedida a pesquisadores brasileiros, cujo indicado foi o epidemiologista Cesar Victora.

Durante o evento, que também marcou a nomeação dos novos membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC), a ministra Luciana Santos assinou o decreto com as diretrizes da Nova Estratégia Nacional de C&T,I.

A ANPG foi agraciada com a Menção de Agradecimento do CNPq, um reconhecimento da instituição a pessoas e entidades que se empenharam na defesa da ciência e da própria agência, que chegou a ser ameaçada de fechamento durante o governo negacionista de Bolsonaro. Também foram homenageados a Coordenação-Geral de Tecnologias Habilitadores e os pesquisadores Milton Coelho da Silva Neto e Paulo Cesar Alvin.

O presidente do CNPq, doutor Ricardo Galvão, destacou a importância da união e dedicação da comunidade científica para resistir no último período. “Reunimos aqui instituições e cientistas que dedicaram seu trabalho, esforço e tempo a um dos mais sólidos pilares do desenvolvimento econômico e social: o conhecimento científico”, afirmou.

Vinicius Soares, presidente da ANPG, esteve na cerimônia e falou do papel histórico dos pós-graduandos brasileiros para o desenvolvimento nacional. “A ANPG recebe com muita honra e orgulho esse prêmio, pois é símbolo da luta que travamos nos últimos anos em defesa do CNPq, da ciência e do país. Desde a nossa fundação, temos respondido aos chamados históricos que o Brasil nos faz. A resistência deixa como legado a chance de reconstruirmos o país, valorizando os jovens cientistas e a ciência nacional”, pontuou.

Nesta quarta-feira, 10, no Rio de Janeiro, o CNPq e o MCTI realizaram a 35ª edição da entrega do Prêmio Almirante Álvaro Alberto, a maior honraria concedida a pesquisadores brasileiros, cujo indicado foi o epidemiologista Cesar Victora.

Durante o evento, que também marcou a nomeação dos novos membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC), a ministra Luciana Santos assinou o decreto com as diretrizes da Nova Estratégia Nacional de C&T,I.

A ANPG foi agraciada com a Menção de Agradecimento do CNPq, um reconhecimento da instituição a pessoas e entidades que se empenharam na defesa da ciência e da própria agência, que chegou a ser ameaçada de fechamento durante o governo negacionista de Bolsonaro. Também foram homenageados a Coordenação-Geral de Tecnologias Habilitadores e os pesquisadores Milton Coelho da Silva Neto e Paulo Cesar Alvin.

O presidente do CNPq, doutor Ricardo Galvão, destacou a importância da união e dedicação da comunidade científica para resistir no último período. “Reunimos aqui instituições e cientistas que dedicaram seu trabalho, esforço e tempo a um dos mais sólidos pilares do desenvolvimento econômico e social: o conhecimento científico”, afirmou.

Vinicius Soares, presidente da ANPG, esteve na cerimônia e falou do papel histórico dos pós-graduandos brasileiros para o desenvolvimento nacional. “A ANPG recebe com muita honra e orgulho esse prêmio, pois é símbolo da luta que travamos nos últimos anos em defesa do CNPq, da ciência e do país. Desde a nossa fundação, temos respondido aos chamados históricos que o Brasil nos faz. A resistência deixa como legado a chance de reconstruirmos o país, valorizando os jovens cientistas e a ciência nacional”, pontuou.

São Paulo, 04 de abril de 2023

Após 10 anos de muita luta, a Associação Nacional de Pós-graduandos, juntamente com o movimento nacional de pós-graduandos, conquistou o reajuste das bolsas de estudos, que estavam desvalorizadas em mais de 75%, condição que colocou milhares de pós-graduandos em vulnerabilidade social. Esse passo que o Brasil deu pode ser colocado como uma das políticas mais acertadas do atual governo, pois estamos falando do desenvolvimento e da soberania nacional socialmente referenciados, além de caminhar para uma produção científica e de um conhecimento mais democrático.

Essa vitória só foi possível pela virada de chave que conquistamos ao derrotar o governo Bolsonaro nas urnas, abrindo um caminho de perspectivas para reconstrução nacional, com democracia, educação, ciência e valorização da vida. Entretanto, a reconstrução exige a continuidade da nossa mobilização em defesa das causas justas, colocando a população dentro das prioridades do atual governo e do Congresso Nacional. Em síntese, o Brasil precisa sair do mapa da fome e voltar ao mapa da Ciência.

Apesar da derrota eleitoral do último governo, muitas de suas medidas ainda vigoram, impedindo a retomada plena do nosso desenvolvimento. A política nefasta de juros altos do Banco Central e o Teto de Gastos impactam o Orçamento do Conhecimento brasileiro – logo, impactam a vida do pós-graduando e suas perspectivas -, tendo em vista que são medidas que sufocam a economia e solapam oportunidades, inclusive, de conquistarmos nossa soberania e independência econômica e tecnológica. É apenas através de políticas públicas sociais que permitam gerar oportunidades, renda, emprego e combate à fome que reconstruiremos o país e colocaremos o povo no orçamento público.

Precisamos continuar lutando pela valorização do pós-graduando no Brasil. É urgente o reajuste das bolsas que ainda não tiveram seus valores corrigidos, como as bolsas de doutorado sanduíche, das fundações de amparo à pesquisa nos estados, das instituições de ensino, dentre outras. Ao lado disso, é necessário criar e implementar um mecanismo anual para reajuste das bolsas, resguardando os pesquisadores das intempéries de governos.

É preciso avançar no debate e formulação dos direitos à assistência estudantil, trabalhistas e previdenciários, criando um sistema de proteção social àqueles que produzem mais de 90% da ciência nacional e que são os verdadeiros responsáveis pela produção do conhecimento no país, força motriz de nosso desenvolvimento. Sem esses mecanismos, a produção científica poderá voltar a ser acessível apenas para a elite.

Devemos persistir no caminho de democratizar o conhecimento para que a ciência seja produzida pelo povo e para o povo brasileiro, compreendido em toda a sua diversidade. Por isso, além disso, é urgente a universalização das ações afirmativas, associadas a um conjunto de políticas públicas de permanência. Só com a da consolidação de uma proposta robusta, da articulação institucional e da mobilização massiva dos pós-graduandos que avançaremos rumo a mais essas conquistas históricas do Movimento Nacional de Pós-Graduandos.

Por isso, ao final da II Reunião de Diretoria da ANPG, realizada entre os dias 31 de março e 02 de abril de 2023, instalamos a criação de três grupos de trabalho: a) mundo do trabalho (direitos trabalhistas e previdenciários); b) assistência e permanência estudantil; c) ações afirmativas. Esses grupos serão compostos pela diretoria da ANPG, funcionarão de abril a julho deste ano e terão por objetivo analisar, debater e formular proposições sobre essas temáticas.

Não obstante, temos que discutir e avançar em propostas para tornar o ambiente da pós-graduação mais saudável. É impossível alcançar a pós-graduação que queremos com mais de 80% dos pós-graduandos desmotivados em continuar seus estudos e com 53% diagnosticados com algum adoecimento mental pós-pandemia, como atestam estudos da Fiocruz. Nesse quadro, faz-se necessária uma nova prorrogação dos prazos e bolsas para aqueles que ainda encontram dificuldades estruturais para continuação e término de suas pesquisas, posto que os efeitos da crise sanitária ainda perduram.

Para a defesa intransigente dos direitos dos pós-graduandos, o fortalecimento da pós-graduação e da ciência nacional, é imprescindível continuarmos a mobilização e o fortalecimento da ANPG, das Associações de Pós-Graduandos e de todo o movimento nacional de pós-graduandos, ampliando a rede de APGs espalhadas por todo o país, a fim de garantir capilaridade e força suficientes para a conquista dessas pautas e direitos nesse próximo período.

O segundo dia do seminário debateu as relações entre a pós-graduação e o desenvolvimento nacional através do mercado de trabalho. A mesa “O mundo do trabalho no Brasil do século XXI” teve como debatedores os professores Antônio Carlos Mazzeo, da USP, Marilena Teixeira, da Unicamp, Elisângela Lizardo, assessora do Ministério de Ciência e Tecnologia, e Carlos Rogério Nunes, dirigente sindical da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

O professor Antônio Carlos Mazzeo fez um resgate histórico da formação social do país e a relacionou com os dilemas do trabalho nos tempos atuais. “O núcleo fundante da sociedade brasileira é o trabalho escravo. A escravidão moldou a sociedade. Com a abolição e a vinda dos trabalhadores europeus, criam-se diversas formas de trabalho, mas fundamentalmente moldadas pela escravidão”, afirmou.

Mazzeo disse ainda que essa herança escravista impacta na formação de consciências, gerando uma sociedade marcada por preconceitos e opressões. “O racismo permeia as relações do trabalho e as sociais. A escravidão gera uma ideologia supremacista e um caldo de cultura de uma sociedade autocrática. Uma burguesia sem projeto nacional e que vive da hiper exploração do trabalho”, finalizou.

Professora do Instituto de Economia da Unicamp, Marilena Teixeira abordou problemas estruturais na organização da sociedade capitalista que impossibilitam até mesmo haver trabalho para todos, criando um contingente de excluídos do processo produtivo. “Na atual fase do capitalismo, existe uma sociedade cindida entre quem tem acesso ao trabalho e quem não terá. E isso é inadmissível! O Estado tem que ser capaz de gerar emprego em setores estratégicos. Se o Estado intervém para socorrer bancos em momentos de crise, por que não pode socorrer o trabalho?”, indagou.

Marilena diz que uma parcela dos pós-graduandos está nesse contingente, não por falta de formação, mas por falta de perspectivas na atual realidade econômica do Brasil, só lhes restando empregabilidade na carreira acadêmica. “Parte do contingente de desempregados não são pessoas com baixa escolaridade, são os mestres e doutores que estão fora do mercado. Parte dos pesquisadores que não terminam mestrado e doutorado abandonam porque não veem perspectiva de trabalho fora da universidade”, disse.

O dirigente sindical Carlos Rogério Nunes apontou mudanças estruturais na organização do trabalho que romperam com paradigmas anteriores, como o fordismo, em que a linha de produção se completava no mesmo local. Ele relacionou a nova realidade ao desemprego estrutural e a dificuldades de organizar a luta por direitos. “Hoje em dia, a mais valia relativa, que são os aperfeiçoamentos da produção através da pesquisa, da evolução técnica, e também da organização e da gestão do trabalho, criou a produção flexível, espalhada, inclusive em países diferentes, desde que o custo do trabalho seja cada vez mais baixo. Por isso, há desemprego estrutural e muita informalidade”.

Para Elisângela Lizardo, assessora de Participação Social e Diversidade do Ministério de Ciência e Tecnologia, a situação híbrida do pós-graduando o coloca em uma posição pré-profissional, ou seja, que reivindica a condição de ingressar no mercado de trabalho, ainda que seja um produtor de pesquisa. “Estamos no banco de reservas. Queremos entrar em campo para disputar o jogo”, brincou.

Ela demonstrou que o Brasil vive uma evolução histórica na proporção de seus mestres e doutores. Entre 2005 e 2017, o país avançou de 17 para 30 mestres para cada 100 mil habitantes e de 5 para 10 doutores para a mesma proporção. “As mulheres são a maioria das tituladas, 55% no mestrado e 54% no doutorado. Entretanto, essa proporção vai diminuindo e se alterando na progressão da carreira, o que retrata a divisão sexual do trabalho”, afirmou criticando o machismo estrutural existente também na academia.

Elisângela apresentou dados de uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) que mostram a carreira acadêmica como a principal motivação para fazer pesquisa para 42% dos mestrandos e doutorandos na instituição.

Retratando as dificuldades vividas pelos pós-graduandos, 59,1% já pensaram em abandonar o curso, sendo 24% pela carga de exigência do trabalho acadêmico, 21,7% por dificuldades em conciliar trabalho e pesquisa, 19,3% por questões de saúde mental e 17,9% por problemas financeiros.

Na manhã deste sábado (01/04), o segundo dia do seminário e reunião de diretoria da ANPG começou com a apresentação do “O lugar do pós-graduando no Brasil”, estudo realizado pelo Centro de Estudos e Memória da Juventude (CEMJ) sobre a relação entre a pós-graduação e o mundo do trabalho.

A pesquisadora Luana Bonone apresentou as balizas do estudo e pontuou que o perfil dos pós-graduandos se alterou nas últimas décadas, principalmente em decorrência da ampliação das vagas nas universidades públicas e da lei de cotas na graduação, que popularizaram mais o ambiente acadêmico.

A pesquisa será dividida em 5 grandes blocos: pós-graduação e trabalho, direitos e deveres dos pós-graduandos, a análise comparada da pós-graduação brasileira em relação a outros países, um questionário que será aplicado entre os pesquisadores para identificar as atividades remuneradas e não remuneradas que praticam, suas condições de estudo, tempo livre e outros temas de interesse, e, por fim, as considerações finais.

Luana apontou que a reivindicação de um mecanismo permanente de reajuste das bolsas é uma bandeira constante dos pós-graduandos desde a fundação da ANPG. Para chegar a conclusão, a pesquisadora se debruçou sobre os Projetos de Lei 6545/1985, 2405/1989, 3663/2000 e 2315/2003, apresentados em momentos históricos e governos diferentes, mas sempre com essa característica.

“As bolsas chegaram a ser de 6 salários para mestrado e 9 para doutorado, num período, em meados da década de 1980, em que as bolsas eram uma proporção do salário dos professores das universidades federais. Mas esse mecanismo durou apenas um ano”, disse.

Outro tema importante para a investigação é saber quais tipos de atividades laborais os pós-graduandos têm realizado para compor a renda, se são relacionadas a suas áreas de pesquisa ou não, e também os impactos que as pressões profissionais, de prazos de pesquisa e até mesmo familiares têm na saúde mental dos pós-graduandos.

A II Reunião de Diretoria da ANPG, iniciada nesta sexta-feira (31), debateu a função social da pós-graduação através do seminário “O lugar do pós-graduando no mundo da formação e do trabalho”, com os convidados Laerte Ferreira, diretor de Programas e Bolsas da CAPES, e Flávia Calé, ex-presidente da ANPG e representante da entidade no Conselho Técnico e Científico da CAPES.

Na abertura da reunião, Vinicius Soares falou sobre o processo de construção da pós-graduação brasileira, que, naquele período, significava uma espécie de verticalização do ensino superior. “A regulamentação buscou uma forma de criar um ambiente elitizado na universidade com três objetivos principais: formar professores, ampliar a pesquisa e formar trabalhadores tecnicamente preparados. Por isso, devemos discutir a função social da pós-graduação numa conjuntura de reconstrução nacional, para que o povo brasileiro seja o beneficiário da produção científica”, disse.

O professor Laerte Ferreira exaltou a complexidade e a resiliência do sistema nacional de educação e de ciência e o corpo de funcionários, que mantiveram as agências e universidades mesmo sob os ataques permanentes do governo anterior. “Capes e CNPq são verdadeiras agências de Estado. Os servidores da Capes e do CNPq são um patrimônio. Esse corpo funcional fez com continuássemos funcionando mesmo que estivéssemos sofrendo ataques sistemáticos à educação, à ciência, às universidades e ao conhecimento”, disse.

Afirmando a obrigação e o compromisso da Capes em apoiar os jovens pesquisadores, Laerte disse que deixar de fazê-lo significaria “jogar fora o tão falado bônus demográfico” que o país viveu. “Se não fizermos isso, além de fuga de cérebros, teremos desalento de cérebros, porque quantos não são os pós-graduandos que estão sendo subtilizados?”, questionou.

Se temos pós-graduação no país é porque o Estado contribuiu para isso. Não cabe ficar apenas em pautas corporativistas. Precisamos debater todos os problemas que nossa nação tem enfrentado, porque esse é o papel dos pós-graduandos na reconstrução do país e na conquista da verdadeira independência.

Vice-presidenta da ANPG, Ana Priscila disse que certos avanços obtidos no ciclo progressista resistem e não retrocederão mesmo diante da destruição promovida pelo negacionismo. Tínhamos a maior defasagem da história e, por isso, tivemos o maior aumento da história. “Quando falamos em reconstrução é que algo que estava sendo construído foi interrompido e vai ser retomado. Mas o que estava sendo construído não retrocede mais. Tanto que em meio ao caos de Bolsonaro, em meio a um golpe, nós estamos aqui. A ampliação das universidades, da pós-graduação, não volta mais atrás”.

Robério Rodrigues, professor da UESB e presidente da Foprop, falou que é preciso lutar pela recomposição do orçamento da Capes mirando seu melhor período, quando teve mais de 8 bilhões de verba. “Saímos de um período obscurantista em que professor, estudante, universidade, instituto não eram recebidos, não era percebidos. Hoje essa realidade mudou. Mas há um sistema mais de 4500 cursos de pós-graduação que precisa se sustentar. Precisamos recuperar o orçamento da Capes, pois há uma defasagem de 3 bi do melhor orçamento histórico da Capes”.

O dirigente da Foprop se comprometeu a apoiar a luta da ANPG por direitos previdenciários aos jovens pesquisadores e a ampliação do aumento do número de bolsas e a recomposição integral dos valores. “Pedi reunião com os ministros da Educação e da Previdência para tratar da inclusão dos pós-graduandos no arcabouço da previdência social brasileira, deixando explícito que a ANPG precisa estar junto. Temos poucos alunos com bolsas, algo entre 35% e 40%. Ainda que o reajuste tenha sido o maior da história, a defasagem era superior a 70%, então ainda há uma perda”, apontou.

Flávia Calé abordou o papel social dos pós-graduandos como o de agentes fundamentais para debater e dar suporte a um projeto de desenvolvimento nacional baseado na ciência e tecnologia. “A discussão de perspectiva para o pós-graduando como trabalhador da ciência precisa necessariamente passar pelo desenvolvimento, porque sem desenvolvimento não há aumento de produtividade, geração de bons empregos e aumento dos salários”, disse.

Nesse sentido, segundo ela, existe a necessidade de travar uma disputa política acerca dos rumos de política econômica e da arquitetura do Estado, que padece dos entraves colocados pelo neoliberalismo para constranger os investimentos públicos. “Precisamos defender uma séria política industrial, porque sem ela não tem desenvolvimento científico. E por isso precisamos falar sobre o arcabouço fiscal. Se inibirmos a capacidade de investimento público, outros investimentos não vão acontecer”.

Ao finalizar sua participação, Flávia defendeu que o centro da luta por direitos dos pós-graduandos precisa ser o reconhecimento profissional do pesquisador, porque através dele virão os direitos trabalhistas, previdenciários, a valorização permanente das bolsas e outras conquistas.

Ao encerrar a mesa, Vinicius falou da importância de a ANPG intervir em todos os debates políticos do país e não apenas nas pautas da educação e da ciência. “Se temos pós-graduação no país é porque o Estado contribuiu para isso. Não nos cabe ficar apenas em pautas corporativistas. Precisamos debater todos os problemas que nossa nação tem enfrentado, porque esse é o papel dos pós-graduandos na reconstrução do país e na conquista da verdadeira independência”, finalizou.

 

Na tarde desta sexta-feira (31), em contraponto ao 59º aniversário do golpe militar, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) realizaram a palestra “Democratic Knowledge and Democratic Ignorance” (Conhecimento Democrático e Ignorância democrática), com Peter Burke, professor emérito da universidade de Cambridge.

O evento, que abriu a II Reunião da Diretoria da ANPG, aconteceu no salão nobre do Centro Universitário Maria Antônia (USP), antigo prédio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, fechado pelo regime militar. O presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, afirmou que a decisão de realizar a palestra nessa data foi justamente para “exorcizar” o fantasma da ditadura e disse que a entidade irá propor uma data anual para que a população manifeste repúdio ao regime autoritário.

Vinicius Soares, presidente da ANPG, registrou o momento político vivido pelo Brasil, que, no último dia 8/1 passou por uma tentativa de golpe. “Essa atividade acontece em um local histórico para a luta em defesa da democracia. Conhecimento é poder e pode ser usado inclusive para destruir a democracia. A ANPG é filha da abertura democrática do nosso país, por isso, é simbólico e fundamental participar desse momento”.

O conferencista Peter Burke fez um panorama sobre características comuns a regimes antidemocráticos, como restrições à educação do povo e a falta de transparência nos temas de interesse público. “Podemos opor a ansiedade dos ditadores, que temem a disseminação do conhecimento, e a ansiedade dos democratas, que temem a ignorância. A democracia exige transparência, a ditadura precisa da opacidade”.

Citando exemplos históricos de como regimes podem usar a ignorância e restrição de informações para se manter no poder, falou do exemplo das sufragistas britânicas, que diziam que os machistas não possibilitavam a educação escolar das mulheres para impedir que conquistassem o direito ao voto. Mencionou também o acobertamento do acidente nuclear em Chernobil, na década de 1980, como exemplo da falta de transparência na antiga União Soviética.

Burke abordou o tema das fake news, fenômeno que tem desafiado as democracias mundo afora. Para o professor, as lacunas de informação acabam sendo preenchidas pelo imaginário coletivo através de teorias conspiratórias ou notícias falsas, problema que sempre existiu, mas que ganhou outra escala com a internet. “As fake news se tornaram um problema muito maior na era digital. As novas tecnologias permitem a falsificação de imagens, transmissões e textos”, afirmou.

Segundo Burke, essa nova dinâmica de disseminação instantânea da desinformação exige uma educação midiática cada vez mais precoce para conter os danos. “As atitudes críticas devem ser inculcadas muito mais cedo e a um público muito maior do que apenas os aspirantes a jornalistas. Deve começar pela escola, no ensino fundamental. Até crianças pequenas devem ser levadas a se perguntar, quando recebem uma notícia de alguém que não conhecem: de quem veio a mensagem e quem ganha com ela?”

Defendeu que esse processo de conscientização contra as notícias falsas deve responder a cinco perguntas-chave: quem enviou a mensagem, quais técnicas criativas são usadas para atrair a atenção, como as diferentes pessoas podem entender a mensagem, quais valores e pontos de vista são demonstrados ou omitidos na mensagem e quem ganhou algo com ela.